.

quinta-feira, 27 de março de 2008

PASSA QUATRO: PRESENTE, PASSADO E NATUREZA NO EXTREMO SUL DAS GERAIS

A cidade de Passa Quatro fica localizada no sul de Minas Gerais, a 970 metros de altitude, nas chamadas Terras Altas da Serra da Mantiqueira, próximo à divisa com São Paulo. Seu nome nasceu de uma referência que o bandeirante paulista Fernão Dias deixou para os viajantes posteriores: "Passa quatro vezes o mesmo rio e terás um repouso tranqüilo". A passagem dos bandeirantes paulistas e suas paradas no século 17 deram origem à cidade e ao trajeto da Estrada Real, cujo percurso passava pelo Vale do Paraíba Paulista e escoava, através do porto de Paraty, no estado do Rio, o ouro extraído das Minas Gerais.


Vista do Mirante de Passa Quatro

O local continua propício para um repouso tranqüilo em pleno século 21. Com cerca de 15 mil habitantes, Passa Quatro possui um rico acervo arquitetônico e urbanístico formado por construções que datam da virada do século 19 para o 20: A Matriz de São Sebastião, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, em estilo gótico, o calçamento em paralelepípedos formando faixas claras e escuras, as fontes de água mineral presentes em todas as praças e jardins, o conjunto da estação ferroviária e o clima, que no verão varia entre 16 e 22 graus e, no inverno, chega a 0 grau durante as geadas da madrugada, dão um toque especial e aconchegante à cidade.
Matriz de São Sebastião

Igreja de nossa Senhora Aparecida

Já as belezas naturais da estância climática e hidromineral formam um complexo propício ao ecoturismo, onde estão presentes o Pico da Pedra da Mina, com 2797 metros de altitude — que fica no trecho da Mantiqueira chamado de Serra Fina e é o 4º ponto mais alto do Brasil — o Pico dos Três Estados, com 2665 metros, localizado no encontro entre as divisas de SP, MG e RJ, e o Pico do Itaguaré, com 2308 metros, onde nasce o ribeirão Passa Quatro, que corta a cidade e foi a referência para a chegada dos bandeirantes paulistas, e para a escolha do nome com que os mesmos batizaram o lugar.

Os 370 quilômetros de estradas rurais de Passa Quatro oferecem trilhas para treking, passeios de jipe e sediam anualmente a Copa Power Bike de mountain bike, que terá sua edição 2008 realizada nos dias 12 e 13 de abril próximos. Outros atrativos são a Reserva Florestal do IBAMA, rios, cachoeiras e pescarias de truta. No centro da cidade, próximo à Matriz de São Sebastião, o visitante pode obter informações sobre as opções turísticas do município.


Por estar perto da divisa com São Paulo, a cidade foi cenário das revoluções de 1930 e 1932. Uma ótima opção para o turismo histórico é a viagem de maria fumaça em vagões do século 19, que partem da estação da cidade todos os sábados às 10h e às 14h30 e, aos domingos, às 10h. Antes do embarque e no retorno, os turistas ouvem as músicas do acordeom tocado por um típico personagem do Brasil; seu José Rodrigues, de 59 anos. Deficiente visual, José toca o instrumento há 20 anos.


José Rodrigues, 59 anos. Música ao vivo na estação da cidade, apesar da deficiência visual

Vagões do século 19 ...

e a locomotiva fabricada em 1929
A passagem custa 25 reais por pessoa, e o trem percorre um trecho da antiga estrada de ferro Sul Mineira Highway, que ligava Cruzeiro, no Vale do Paraíba Paulista, a Três Corações / MG. O percurso passa pela estação de Manacá, no distrito de Pinheirinho, onde funciona uma feira de artesanato. No local, foram gravados os últimos capítulos da minisérie Mad Maria, da TV Globo. O passeio termina na estação de Coronél Fulgêncio, próximo ao túnel de 1 quilômetro de extensão que separa Minas Gerais de São Paulo, e foi o cenário de sangrentas e decisivas batalhas da Revolução Constitucionalista de 1932, com a presença do então jovem médico mineiro Juscelino Kubitschek.
A pequena estação de Manacá, que já foi cenário para gravações da TV Globo
Em Passa Quatro, presente, passado e natureza se encontram graças a um universo com jeito de máquina do tempo capaz transportar o visitante para o século 19 e, porque não, para o aconchego do repouso tranqüilo dos fundadores e pioneiros bandeirantes paulistas.


Para chegar à cidade, o turista deve usar a saída 39 da rodovia Presidente Dutra, que fica no quilômetro 40, em Cachoeira Paulista. Depois deverá seguir pela rodovia SP–58 em direção à cidade de Cruzeiro/SP, até o trevo que indica o acesso para Passa Quatro pela SP–52.
Cássio Ribeiro

domingo, 23 de março de 2008

O RIO PARAÍBA DO SUL DA NASCENTE À FOZ

No lugar do choro daquele que acaba de deixar o útero materno, o barulho do primeiro filete de água que escorre ao se desprender das entranhas da terra no local conhecido como Lagoa, no alto dos Campos da Bocaina, dentro dos limites do município de Areias/SP, a 2 mil metros de altitude aproximadamente.

Assim vem ao mundo o senhor Paraíba do Sul "da Silva", um dos brasileiros mais importantes que nascem e morrem dentro da Região Sudeste. Na nascente, o ar gelado e puro do alto da serra e o perfume da mata proporcionam um frescor nas vias respiratórias que lembra a sensação das balas mentoladas.

O personagem mais antigo e importante do Vale surge dentro de uma grota coberta por densa vegetação. A água sai do chão e começa a correr por uma pequena valeta na parte mais baixa do terreno, num modesto fluxo com a mesma intensidade daqueles dos cantos de rua em dias de chuvas fracas.

"A água das chuvas se infiltra nas regiões mais altas e satura o solo. Em determinado ponto do terreno com característica côncava, a água aflora muitas vezes repleta de minerais que entrou em contato nas camadas subterrâneas durante a infiltração", explica o geógrafo Fábio Cox, de Guaratinguetá.
Primeiro salto da água do Paraíba
Depois de vir ao mundo, alguns metros mais adiante, o jovem Paraíba do Sul sai da mata onde nasce, corre através de uma curta canaleta e despenca numa singela queda de aproximadamente meio metro. A nascente, que é a principal e mais alta de toda a bacia do rio Paraíba, marca o início do rio Paraitinga — rio de águas claras em Tupi Guarani — e está a aproximadamente 35 quilômetros do litoral de Mambucaba, no estado do Rio de Janeiro. Porém, o relevo íngreme da Serra do Mar obriga o curso d’água a percorrer uma distância de cerca de 1380 quilômetros até chegar ao Oceano Atlântico, no norte do estado do Rio; formando assim, com uma vasta rede de afluentes, uma das mais importantes bacias hidrográficas da América do Sul.

Para chegar à nascente, deve-se seguir pela rodovia Presidente Dutra até o trevo que fica próximo à cidade de Cachoeira Paulista/SP e, a partir daí, rumar em direção a Silveiras/SP pela rodovia SP-66. No portal da cidade, o turista deve entrar à direita e seguir em direção ao Bairro dos Macacos. A rodovia é asfaltada, porém, sem acostamento e muito sinuosa. São 30 quilômetros de percurso que sobe a Serra da Quebra Cangalha, passa pelo lugarejo Bom Jesus e chega ao Bairro dos Macacos, que possui cerca de 600 habitantes.

O Bairro dos Macacos parece perdido e encravado no meio da serra. No local, o guia perfeito para a subida até à nascente do rio Paraíba é seu Helinho Mecânico. Fazendo jus ao apelido, o quintal de seu Helinho Mecânico é cheio de carros em pedaços: um fusca completamente retalhado, outro sem motor e um terceiro aparentemente inteiro; além de dois jipes, um de fabricação nacional e outro norte-americano. O mato por cortar invade carcaças em pleno clima frio das escarpas da serra da Bocaina.


Seu Helinho Mecânico é muito falante. Com seu inseparável boné azul, enquanto esquenta a água em uma chaleira sobre o fogão à lenha para fazer café, se alegra ao falar sobre a nascente. Conta que o volume de água onde brota o Paraíba nunca se alterou, mesmo nas estiagens mais rigorosas. Revela ainda que próximo à nascente vive um personagem solitário: seu José Lima, sujeito de pele escura que se retira para trabalhar na roça durante o dia, e que também costuma conversar com um velho rádio AM, concordando com as ofertas anunciadas e debatendo com o aparelho quando discorda de alguma notícia.

No percurso até a nascente, que tem início no Bairro dos Macacos, são mais 26 quilômetros de estrada não pavimentada, que se embrenha pela Serra da Bocaina adentro. Outra dica de seu Helinho Mecânico é subir com fusca ou jipe bem cedo, após o raiar do dia, pois no fim das tardes de primavera e verão, as chuvas costumam castigar o alto dos Campos da Bocaina. A água misturada com o barro da estrada termina em atoleiro certo.


A vista do Alto da Bocaina compensa o esforço da subida. Pode-se observar, bem abaixo, a Serra da Quebra Cangalha e o Vale do Paraíba Paulista ao norte coberto por densa bruma. Ao fundo, a Serra da Mantiqueira forma generosa moldura elaborada pela natureza. Os Campos de Cunha estão a oeste e os cumes da Serra do Mar completam a esplendorosa vista ao sul.


O outro formador do rio Paraíba do Sul é o Paraibuna, que nasce no Bairro da Aparição, na região dos Campos de Cunha, bem mais abaixo que a nascente considerada a principal, na Serra da Bocaina. O nome Paraibuna quer dizer rio de águas turvas na língua indígena. "Apesar de limpo, o rio nasce em uma região rica em sedimentos que escurecem a água", diz o ambientalista Fernando Celso, de Guaratinguetá, que desenvolve o projeto de elaboração de um livro sobre o Rio Paraíba do Sul, abordando seus aspectos da nascente à foz.

O Paraitinga e o Paraibuna são represados e formam o lago da barragem de Paraibuna. O curso d’água que surge na vazão da represa é o rio Paraíba do Sul, que corre para o oeste, na direção da cidade de São Paulo e, curiosamente, a apenas 18 quilômetros do curso do rio Tietê, é impedido de tornar-se um afluente deste pela elevação do Planalto Paulista.

Por um capricho da natureza, que parece conspirar para que o Paraíba percorra longo caminho até o mar, o Rio faz a famosa curva de Guararema e entra no Vale a que dá nome, fazendo um giro de 180º e correndo para o leste, novamente na direção onde está sua nascente.

No sentido literal da expressão, o Vale do Paraíba parece mesmo pertencer ao rio Paraíba, que corre calmo, serpenteando pelo fundo da grande depressão longitudinal existente entre as Serras da Mantiqueira e do Mar.

Na bacia do médio Paraíba, que se estende de Guararema/SP até Cachoeira Paulista/SP, a declividade média do curso d’água é de 19 centímetros por quilômetro, e as principais atividades econômicas são a agropecuária e a industrial. A baixa declividade faz o Paraíba correr de forma sinuosa. A navegação é impedida por saltos, corredeiras rasas e alguns trechos curtíssimos de alta declividade.
O Paraíba correndo tranqüilo em seu trecho paulista, num fim de tarde em Guaratinguetá
A Bacia do Rio Paraíba do Sul possui uma área de 57 mil quilômetros quadrados e se estende por SP, MG e RJ, sendo formada por 180 municípios que despejam cerca de um bilhão de litros de esgoto por dia no Rio, além do lixo orgânico e industrial equivalente ao produzido por quatro milhões de habitantes. "As corredeiras, em certos pontos, contribuem para a oxigenação da água, que acaba facilitando a decomposição da matéria orgânica pelas bactérias. O rio acaba, em parte, se purificando naturalmente", afirma Sérgio Pereira, estudante do curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Taubaté.
Manilha que desemboca no Paraíba do Sul em Guaratinguetá
Mesmo com as agressões, a própria natureza cuida da purificação parcial do Paraíba nos trechos em que a água do Rio é oxigenada pelas corredeiras

Apesar da intensa poluição no trecho paulista do Paraíba do Sul ...




a tradição da pesca no Rio herdada dos índios permanece viva na região valeparaibana


São extraídos cerca de cinco bilhões de litros de água do Rio diariamente para consumo. O setor industrial utiliza a metade. A outra metade abastece 14 milhões de pessoas que dependem das águas da bacia do Paraíba do Sul. 90% da população do Grande Rio de Janeiro é abastecida pelo lago do Reservatório de Lajes.


O Paraíba do Sul, com seu volume de água e números estatísticos gigantes, chega ao norte do estado do Rio de Janeiro. Recebe seus dois últimos e maiores afluentes: os rios Pomba e Muriaé. Passa pelas cidades de São Fidélis e Campos dos Goytacazes, que estão há 12 horas de viagem por rodovia, a partir do Vale do Paraíba Paulista, e chega sereno ao 'fim'de uma longa vida, encontrando o mar em São João da Barra. Trata-se do segundo maior deságüe em forma de delta da América do Sul.


Trecho do Paraíba onde foi encontrada a imagem de Nossa Senhora Aparecida por três pescadorres no século 18. Ao fundo, observa-se a Basílica Nacional

Imagem de satétilte com o registro do curso final do rio Paraíba do Sul. No deságüe, em São João da Barra, pode-se observar a coloração alaranjada da água do mar, que é resultante da grande quantidade de sedimentos barrentos levados pelo Paraíba até seu encontro com o Oceano Atlântico


Outra imagem de satélite em escala maior que a anterior, mostra o detalhe da foz do rio Paraíba, que é o segundo deságüe em forma de delta da América do Sul

Depois de serem maltratadas pelo homem durante todo seu trajeto, ao receberem esgoto, lixo doméstico, hospitalar, industrial e produtos químicos, as águas do rio Paraíba do Sul, assim como as do rio Tietê em São Paulo, se recompõem parcialmente por meio da própria magia da natureza, quase que por um instinto de sobrevivência natural capaz de preservar a vida do personagem que ajudou a escrever, seja no seu leito com a descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida, ou em suas margens com o desenvolvimento das cidades por onde passa, uma parte significativa da História do Brasil.

Cássio Ribeiro.

Críticas e sugestões: e-mail zzaapp@ig.com.br e Orkut: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=18423333339962056517

A REVOLTA DOS 18 DO FORTE DE COPACABANA

Para o entendimento do que foi a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, ocorrida em 1922, é necessário entender primeiro os moldes republicanos implantados no Brasil a partir de 1889, quando o Império teve fim em nosso país, como também compreender o cenário político brasileiro no início da década de 1920.

A Primeira República ou República Velha foi instaurada em 1889, graças à aliança entre militares e fazendeiros de café. A classe militar desejava a implantação de um regime republicano representado por um poder centralizado e forte. Já os grandes cafeicultores queriam um sistema republicano federalista, onde cada estado teria autonomia econômica, como também uma administração política regionalizada.


Como os fazendeiros de café formavam a classe mais rica da sociedade brasileira naquela época, não foi difícil suas aspirações serem implantadas nos moldes políticos brasileiros da República Velha.


Dos 13 presidentes que o Brasil teve no período da República Velha (1889-1930), só 3 eram militares. Quase todos os 10 presidentes civis que governaram o Brasil naquele período eram bacharéis em direito formados pela Faculdade de Direito de São Paulo, onde havia também uma sociedade maçônica secreta, da qual todos os ex-presidentes civis também faziam parte.

A primeira bandeira adotada após a proclamação da Repúlica já deixava claro nossa aproximação ideológica com o sistema republicano norte-americano. Idealizada pelo republicano positivista Rui Barbosa, essa bandeira vigorou só por 5 dias, de 15 a 19 de novembro de 1889, quando foi adotada a bandeira brasileira atual



Outra característica marcante da República Velha, que a fez também ficar conhecida como a República do "Café com Leite", foi a alternância no poder presidencial entre mineiros e paulistas, garantida em suas bases pela "Política dos Governadores". Nela, o presidente da república apoiava os governadores estaduais e seus aliados, que garantiam a eleição de deputados e senadores fiéis ao presidente. Não havia assim, conflito entre o Congresso Nacional e os interesses dos presidentes mineiros e paulistas na República Velha.

No fundo, pode-se dizer que a República Velha era uma repetição dos moldes administrativos do Império. No lugar da Família Real, os ricos fazendeiros mineiros e paulistas se sucediam no poder da República do "Café com Leite".


No meio dessa sucessão presidencial entre representantes de Minas e São Paulo, que eram os dois estados mais ricos da Federação, o marechal Hermes da Fonseca foi eleito para governar o Brasil entre 1910 e 1914, sendo um presidente militar no meio da hegemônica alternância entre ricos fazendeiros mineiros e paulistas. Hermes da Fonseca era sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, que proclamou a República no Brasil, em 15 de novembro de 1889, e foi o primeiro presidente nacional.

Marechal Hermes da Fonseca: um presidente militar no meio da sucessão presidencial monopolizada por fazendeiros paulistas e mineiros



Nas eleições de 1910, São Paulo e Bahia apoiaram Rui Barbosa por meio da "Campanha Civilista", que associava Hermes da Fonseca ao militarismo. O Marechal Hermes venceu mas, ao fim de seu mandato, em 1914, a antiga política de divisão do poder entre as oligarquias paulista e mineira foi retomada.

Entre 1914 e 1918, o Brasil foi governado pelo mineiro Venceslau Brás e, de 1918 até 1919, pelo também mineiro Delfim Moreira. A partir de 1919, até 1922, o paraibano Epitácio Pessoa presidiu o Brasil, e foi pouco antes de sua sucessão, em 1922, que aconteceu a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana.

Epitácio Pessoa: o presidente que teve que enfrentar a Revolta dos 18 do Forte



Na campanha para a sucessão presidencial de 1922, Minas e São Paulo apoiavam o mineiro Artur Bernardes como o próximo representante da política do "Café com Leite". O Exército, na oposição contra os fazendeiros dominantes, deu apoio ao candidato carioca Nilo Peçanha, que representava a "Reação Republicana" formada por uma coligação entre Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.


O cenário político brasileiro começou a ferver quando o jornal Correio da Manhã publicou na edição de 9 de outubro de 1921, uma carta manuscrita atribuída ao candidato dos fazendeiros, Artur Bernardes. Na carta, o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca foi classificado como um "sargentão sem compostura", e o Exército chamado de "antro de corruptos".

O mineiro Artur Bernardes, a quem foi atribuída a autoria da carta injuriosa contra Hermes da Fonseca e o Exército. A suposta carta acabou desencadeando a Revolta dos 18 do Forte



Artur Bernardes venceu as eleições de março de 1922 sob forte acusação de fraude eleitoral. Aliás, durante a República Velha, era comum as oligarquias rurais garantirem a eleição de seus candidatos por meio do voto de cabresto e da fraude eleitoral. Não havia justiça eleitoral e o Presidente da República podia legalizar qualquer resultado que atendesse aos seus interesses, graças ao controle que exercia sobre as comissões de verificação das eleições.


Nesse cenário, que garantia o domínio do país pelos fazendeiros paulistas e mineiros, além da concentração populacional nas zonas rurais e intensa miséria nos meios urbanos, o povo saiu às ruas para protestar e exigir mudanças. O Exército foi convocado para conter rebeliões populares em Pernambuco. Em 29 de junho e 1922, o marechal Hermes da Fonseca, que era a mais alta patente do Exército na ocasião, enviou uma mensagem de telégrafo ao Recife dando a ordem para que os militares não reprimissem o povo. O marechal Hermes acabou preso em 2 de julho por ordem do presidente Epitácio Pessoa. O Clube Militar, que era presidido pelo marechal Hermes, também foi fechado.


O sentimento de afronta tomou conta das fileiras do Exército. O clima esquentou ainda mais quando o presidente Epitácio Pessoa nomeou o historiador e civil Pandiá Calógeras para o cargo de Ministro da Guerra.


O Forte de Copacabana era comandado na ocasião pelo capitão Euclides Hermes da Fonseca, que era filho do ex-presidente preso, marechal Hermes da Fonseca. Em julho de 1922, o Forte de Copacabana tinha 301 homens sob o comando do capitão Euclides Hermes.


No dia 4 de julho de 1922, os soldados do Forte cavaram trincheiras e minaram o terreno do interior do quartel em Copacabana. Todos os quartéis do Exército no Rio de Janeiro se rebelariam contra o presidente Epitácio Pessoa e seu sucessor, Artur Bernardes. A revolta começaria pelo Forte de Copacabana que, na madrugada do dia 5 de julho de 1922, iria disparar um tiro de canhão como senha para o início do levante. Os outros quartéis deveriam responder ao primeiro tiro do Forte de Copacabana logo em seguida.


Conforme o combinado, à 1h30 da madrugada do dia 5 de julho de 1922, o tenente Siqueira Campos disparou um dos canhões do Forte de Copacabana. A resposta dos outros quartéis não aconteceu e nada mais que o silêncio foi ouvido em seguida. O tenente Siqueira Campos esperou 10 minutos e gritou bem alto dentro do Forte: "Fomos traídos!"


Cúpula do canhão alemão Krupp do Forte de Copacabana, apontado para a cidade do Rio de Janeiro no detalhe

Os canhões Krupp do Forte foram trazidos da Alemanha pela Marinha do Brasil. Desembarcados por guindastes elétricos de 80 toneladas, os canhões Krupp do Forte de Copacabana são 6 no total: dois de 305 milímetros, dois de 190 mílimetros e dois de 75 milímetros, com alcances de 23, 18 e 7 quilômetros respectivamente


O Governo tinha informações antecipadas sobre a revolta e mudou os comandos militares do Rio de Janeiro antes do início do levante. Só a Escola Militar de Realengo, onde eram formados os novos tenentes, e alguns quartéis da Vila Militar, precisaram ser contidos no amanhecer do dia 5 de julho. No demais, apenas os 302 homens do Forte de Copacabana estavam rebelados sozinhos contra a República Velha Brasileira naquela manhã.

O tenente Siqueira Campos então fez vários disparos de canhão. Os alvos foram o Quartel-General do Exército no Campo de Santana, o Quartel-General da Marinha na Praça Barão de Ladário, o Depósito Naval na Ilha das Cobras, O Forte de São João na Urca, a Fortaleza de Santa Cruz em Niterói e o Forte do Vigia, que ficava no alto do morro do Leme, e onde morreram quatro pessoas, vítimas dos disparos feitos a partir do Forte de Copacabana.

O Forte de Copacabana também foi severamente bombardeado pelas tropas do Exército fiéis à República Velha, durante todo o dia 5 de julho. A fortaleza de Santa Cruz, do outro lado da entrada da Baía de Guanabara, em Niterói, despejava todo o potencial de sua artilharia pesada sobre o Forte de Copacabana. Os amotinados, liderados pelo capitão Euclides Hermes, ameaçavam bombardear toda a cidade do Rio de Janeiro.


Vista aérea do Forte de Copacabana por dois ângulos: com o morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea ao longe ...

e com águas calmas ao redor e a praia de Copacabana à direita


Já na madrugada do dia 6 de julho, o Ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, fez uma ligação telefônica para o Forte de Copacabana, ordenando a rendição imediata dos rebelados. O Capitão Euclides Hermes e o Tenente Siqueira Campos resolvem deixar sair todos os homens que desejassem se render.


Siqueira Campos diria na ocasião: "Não temos o apoio de ninguém, perdemos a revolução. Não vou enganar ninguém, perdemos a revolução e só nos restam dois caminhos. O primeiro é nos entregarmos como covardes, e o segundo é sairmos por aí lutando até não podermos mais e morrer ou conseguir chegar até o Catete para dizer ao presidente da República do nosso repúdio. Mas também não quero levar ninguém ao suicídio. Quem quiser abandonar o forte, ainda está em tempo."


Foram dados 10 minutos de prazo para a decisão dos homens. Quem optasse por lutar, deveria ficar de um lado do quartel. Os outros poderiam sair do Forte. Os portões do Forte foram abertos e, dos 302 homens amotinados, 273 optaram pela rendição.


Um destróier e os couraçados São Paulo e Minas Gerais reforçaram o bombardeio ao Forte, onde ainda resistiam o capitão Euclides Hermes e seus 28 fiéis comandados. O ministro Calógeras deu outro telefonema ao Forte de Copacabana e exigiu a rendição incondicional, afirmando que, em caso contrário, todos os rebeldes seriam massacrados.


O capitão Euclides Hermes deixou o Forte e foi ao encontro do ministro Calógeras para conversar pessoalmente, mas, ao chegar no Palácio do Catete, onde estava o Ministro, foi preso imediatamente.


No Forte de Copacabana, ainda estavam 28 rebelados. O Tenente Siqueira Campos tomou então a decisão histórica: sair numa marcha suicida pela Avenida Atlântica rumo ao Palácio do Catete, a fim de concluir e deposição do Presidente Epitácio Pessoa.



Antes de saírem do Forte de Copacabana, os militares usaram um canivete para dividirem entre si uma bandeira do Brasil em 29 pedaços. Cada um colocou seu pedaço junto ao peito, preso na parte interna da farda. Um dos pedaços foi guardado para ser entregue ao capitão Euclides Hermes posteriormente.


Os portões do Forte de Copacabana foram abertos às 13 horas do dia 6 de julho de 1922. A histórica marcha suicida pela Avenida Atlântica teve inicio com 28 militares rebeldes armados com seus fuzis. Alguns debandaram, outros foram presos, esse e aquele morreu baleado. Curiosamente, o engenheiro civil gaúcho Otávio Correia, vestindo terno e chapéu, presenciava os combates e resolveu integrar-se ao levante. Pegou um fuzil e se juntou aos 18 militares revoltosos que ainda resistiam.


A histórica foto da marcha final dos rebelados do Forte de Copacabana. O civil Otávio Correia é o quarto da esquerda para direita

Outro registro da histórica caminhada suicida rumo ao combate final com as tropas do Exército leais ao presidente Epitácio Pessoa

Os últimos tiroteios duraram cerca de meia hora. Cercados por 3 mil homens do Exército, já nas proximidades do Leme, os 18 militares e o civil foram abatidos um a um. Só os dois últimos, os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, foram capturados baleados e sobreviveram.


O jornalista Assis Chateaubriand (1892-1968) acompanhou o episódio e escreveria posteriormente: "Na praia eu assisti de perto os últimos combates, e pude ver a areia ainda quente, embebida do sangue dos bravos que sucumbiram de um lado e de outro".



Da histórica Revolta dos 18 do Forte de Copacabana nasceria um movimento militar que influenciaria na vida política brasileira por 4 décadas depois dos anos 20, o Tenentismo.


Oito anos mais tarde, em 1930, os tenentes apoiaram Getúlio Vargas na derrubada da República Velha. Nascia assim a República Nova de Vargas. Porém, o Tenentismo e a Era Vargas são temas para outras edições desta coluna. Alguns historiadores afirmam que o Tenentismo e suas idéias permaneceram até a década de 1970, quando seus últimos representantes morreram.


Não se pode deixar de lembrar aqui que muitos dos generais que conspiraram para depor o presidente João Goulart no Golpe Militar de 1964, eram os tenentes das décadas de 20 e 30 que "amadureceram" e, finalmente, ao atingirem o generalato, calaram covardemente o Brasil, torturando e sufocando sua democracia.


Cássio Ribeiro. E-mail: zzaapp@ig.com.br

quarta-feira, 19 de março de 2008

A ÚLTIMA VIAGEM DO ZEPELIM HINDENBURG

Desde seus primórdios, a aviação causou grande entusiasmo nos seres humanos. Porém, a história do domínio dos homens sobre o ar sempre foi ilustrada por episódios catastróficos.


No meio da década de 1930, a corrida espacial que hoje é configurada por uma ‘maratona’ rumo a Marte, era representada pela competição da indústria de construção de balões dirigíveis. Nessa disputa, a Alemanha Nazista de Adolf Hitler levava a melhor graças à companhia Zepelim, que ficava localizada na cidade de Frankfurt, e garantia à Alemanha daqueles tempos total supremacia na tecnologia do uso de gazes mais leves que o ar.


Nesse contexto, o dirigível Zepelim Hindenburg era o principal representante da excelência do desenvolvimento científico do Terceiro Reich Alemão. Com 245 metros de comprimento, 30 metros de diâmetro e capacidade para transportar 112 toneladas, o Hindenburg era o maior de todos os dirigíveis já construídos, e a primeira aeronave transatlântica para transporte de passageiros.

O imponente Hindenburg ...

representava a supremacia do trasporte aéreo alemão na década de 1930

Comparação entre o Hindenburg e um Boeing 747 atual

Hangar construído no Rio de Janeiro para abrigar o Hindenburg em suas viagens ao Brasil na década de 30. Com 274 metros de comprimento, 58 metros de altura e 58 metros de largura, a construção seguiu as instruções de um imenso kit enviado pelos alemães ao Brasil ...


Atualmente, a gigantesca construção pertence à Base Aérea de Santa Cruz, no RJ, e abriga os aviões do 1º Grupo de Aviação de Caça, o tradicional Esquadrão Senta Pua da Força Aérea Brasileira. Trata-se do único hangar de dirigíveis ainda existente no mundo. Os outros dois hangares construídos para o Hindenburg ficavam na Alemanha e nos Estados Unidos

O Hindenburg inaugurou o serviço de viagem aérea transatlântica em 1936, fazendo 10 vôos de ida e volta entre a Alemanha e os Estados Unidos. Em 1937, a temporada de transporte de passageiros sobre o Atlântico começou na noite de 3 de maio, com a decolagem do Hindenburg em Frankfurt. Na ocasião, embarcaram 61 tripulantes e 36 passageiros que pagaram 400 dólares cada um, pela luxuosa viagem com previsão de término 3 dias depois em Nova Jersey, Estados Unidos, na manhã do dia 6 de maio.

Em plena década de 1930, os passageiros podiam usufruir ...

do grande luxo oferecido nas dependências do Hindenburg ...

além de poderem contemplar a explendorosa vista durante as viagens


A viagem foi tranqüila até que o Hindenburg, já no meio da travessia do Oceano Atlântico a caminho dos Estado Unidos, começou a enfrentar ventos fortes e contrários vindos do oeste para o leste. A tripulação precisou desviar a rota mais para o norte, voando agora sobre as geladas águas repletas de icebergs do Atlântico Norte, o mesmo cenário que fez o desventurado navio Titanic sucumbir e repousar a cerca de 3 mil metros, naquelas frias profundezas do Atlântico.


Além da semelhança das rotas percorridas, o Hindenburg, com o tamanho de cerca de dois campos de futebol, apresentava quase a mesma envergadura que o Titanic. A diferença estava na locomoção pelo ar, que possibilitava aos passageiros um espetáculo de contemplação dos enormes icebergs.


O Sol projetava a sombra do Zepelim no mar, que parecia ir direto de encontro aos icebergs. A impressão era a de que o Hindenburg colidiria de frente, assim como o Titanic, com os imensos e pontiagudos blocos de gelo.


O desvio da rota pelo norte atrasou a viagem em 8 horas, e o Hindenburg, mesmo a uma velocidade média de 110km/h, não chegaria mais aos Estados Unidos naquela manhã de 6 de maio de 1937.


Apesar de serem os mais eficientes dirigíveis daqueles tempos, os Zepelins alemães apresentavam uma significativa e perigosa falha de segurança, pois dependiam do explosivo gás hidrogênio para flutuarem. Já os norte-americanos, embora bem atrás dos alemães na eficiência da fabricação de dirigíveis, faziam uso e monopolizavam a tecnologia de fabricação do gás hélio, não tão perigoso como o hidrogênio usado pelos alemães, por não ser inflamável. Uma lei norte-americana de 1925 proibia a venda de gás hélio para as potências estrangeiras.


Acima e em volta da cabeça dos tripulantes e dos passageiros do Hindenburg, havia 200 mil metros cúbicos do perigoso gás hidrogênio. O Zepelim na verdade era uma imensa bomba voadora.


Um dos passageiros abordo do Hindenburg na viagem de maio de 1937 era o alemão Fritz Erdman, oficial e espião da Luft Waffe (Força Aérea da Alemanha Nazista). Fritz estava apreensivo durante a viagem, pois pouco antes do início do vôo, o embaixador alemão nos Estados Unidos recebeu uma carta que afirmava haver um plano para destruir o Zepelim Hindenburg. Eis o texto da carta:


"Por favor, avisem à Companhia Zepelim em Frankfurt para abrir e verificar toda a correspondência antes de embarcá-la no próximo vôo do Zepelim Hindenburg. O Zepelim será destruído por uma bomba-relógio".


A carta foi escrita por uma psicótica da cidade americana de Milwaukee, mas a ameaça de sabotagem foi levada a sério, já que o Hindenburg, por ser o símbolo da supremacia aérea alemã naqueles tempos, e o orgulho da frota de dirigíveis germânicos, era também um alvo potencial para os sabotadores que se opunham ao Terceiro Reich Alemão.


Na manhã do dia 6 de maio de 1937, dia da chegada do Hindenburg nos Estados Unidos, o comandante da base aérea da marinha americana em Lakehurst, Nova Jersey, rebebeu a notícia de que uma forte tempestade com trovões e raios havia começado no norte. A previsão era de que o mal tempo continuaria por todo o dia.


No Hindenburg, o almoço foi servido mais cedo, a fim de que a chegada aos Estados Unidos pudesse ser apreciada pelos passageiros. O Zepelim causava tremendo alvoroço onde quer que chegasse, pois sendo o primeiro dirigível transatlântico já fabricado, sua presença envolvia enorme publicidade e interesse do público.


Eram exatamente 15h, e o Hindenburg começava a sobrevoar o céu de Nova Iorque. Lojas e escritórios ficaram vazios e o trânsito parado; a tripulação conduziu o Hindenburg rumo a Times Square, onde uma multidão se aglomerava na rua. Pequenos aviões com observadores e repórteres voavam próximos ao Zepelim.

Registro da chegada a Nova Iorque ...

e ilustração com o Hindenburg no céu dos Estados Unidos



Na base aérea em Nova Jersey, local do pouso, relâmpagos eram vistos não muito longe. O céu estava fechado e o tempo continuavam ruim. O perigo das condições eletrostáticas desfavoráveis obrigaram o fechamento das fábricas de pneu próximas a Nova Jersey.


Depois de quase meia hora sobrevoando Nova Iorque sob a mira de olhares e flashs fotográficos, o Hindenburg atravessou o Rio Hudson e seguiu para seu destino final, em Nova Jersey.


A aterrissagem de um dirigível era o momento mais perigoso do vôo e, preferencialmente, acontecia ao amanhecer, quando os ventos são geralmente mais calmos. Um pouso do Hindenburg necessitava de centenas de pessoas em terra, na chamada equipe de solo.


Os cabos de aterrissagem eram jogados do dirigível para a equipe de solo, que os puxava até a presilha localizada no bico do dirigível ser conectada e fixada ao mastro de atracação. Um vento lateral repentino podia fazer o Zepelim subir novamente.


Em algumas ocasiões, componentes da equipe de solo permaneciam agarrados às cordas e eram arrastados para cima. Quando não agüentavam mais, soltavam as cordas e despencavam dezenas de metros numa queda fatal.


Eram 16h e o Hindenburg finalmente chegava à Base Aérea Lakehurst. Fez um rápido sobrevôo e tomou o rumo do mar para evitar a tempestade. Agora são 17h e uma multidão está reunida ao redor da Base. A equipe de solo está pronta no local de atracação, mas o Hindenburg, a alguns quilômetros dali, sobrevoa o mar perto de Atlantic City.


O relógio marca 17h55 e começa a chover forte sobre a Base. O aguaceiro dura cerca de 15 minutos e vai embora de repente, da mesma forma como havia chegado. A equipe de solo e os espectadores estão encharcados.


Apesar das condições de pouso serem desfavoráveis, a direção do vento estar instável e trovões serem ouvidos ao longe; às 18h20, o comandante da Base Aérea de Lakehurst, Charles Rosental, toma uma decisão e dá a seguinte ordem: "Recomendação de pouso imediato!"


O Hindenburg estava a 22 quilômetros da Base Aérea de Lakehurst quando recebeu o aviso para pousar, e rumou novamente para o local de sua chegada. O operador de rádio do Zepelim enviou então uma mensagem para a Alemanha: "Preparar para o pouso. Tempo ruim". A mensagem chegou a Hamburgo e foi passada de forma equivocada para Frankfurt: "O Hindenburg Aterrissou".


Agora são 19h20 e o Dirigível está novamente sobrevoando a Base. Vem do norte e, imponente, aproxima-se do mastro de atracação. A expectativa é grande entre os presentes e o Hindenburg vem sereno, diminuindo sua velocidade.


Os cabos de atracação são lançados do Hindenburg de uma altura de 60 metros para a equipe de solo, que se posiciona e segura os cabos, começando a conduzir o bico do dirigível na direção do mastro de atracação.

Começa a chover forte novamente. A equipe de solo recolhe o Dirigível enfrentando muita dificuldade para equilibrar-se no terreno encharcado. De repente, um vento forte faz o Hindenburg subir novamente sem controle, e o Zepelim fica solto no céu.


Algumas labaredas são avistadas na parte traseira esquerda do dirigível, que parece estar mais pesada que a frente. Há uma explosão e os 200 mil metros cúbicos de hidrogênio do Hindenburg começam a inflamar terrivelmente. As chamas vão aumentando e aumentando cada vez mais, e já consomem a metade traseira do Zepelim.

Instantes após a explosão, as chamas começaram a consumir o Hindenburg rapidamente. Abaixo, à direita do plano da foto, o mastro de atracação pode ser observado bem longe do Dirigível


A pressão do hidrogênio vazando inflamado impulsiona o Zepelim à frente, como um foguete sobre a multidão que corre apavorada em desespero. O Hindenburg se mantém aprumado até o momento em que as chamas chegam ao bico. O dirigível finalmente cai longe do mastro de atracação, com a cauda atingindo primeiro o solo, e o bico ainda erguido em chamas.

A queda final do Hindenburg


Já no chão, o Hindenburg emite muita fumaça negra e ainda há chamas em vários pontos. A equipe de salvamento se apressa para socorrer as pessoas abordo do Zepelim, que ainda fumega sobre suas cabeças, reduzido a ferros retorcidos que sobraram de sua estrutura.


Momentos finais do imponente dirigível ...

e os restos de sua estrurura metálica ainda fumegando


Das 97 pessoas que estavam a bordo, 35 morreram. O espião nazista Fritz Erdman foi uma delas. Um integrante da equipe de solo também morreu. Sob rumores de sabotagem, três investigações foram iniciadas mas nada foi provado. Chegava ao fim, dessa trágica forma, os tempos áureos das luxuosas viagens em dirigíveis.

Cássio Ribeiro. E-mail zzaapp@ig.com.br

domingo, 16 de março de 2008

EL NIÑO: ENTENDENDO O FENÔMENO CLIMÁTICO

O Oceano Pacífico abrange cerca de 180 milhões de quilômetros quadrados da face externa de nosso planeta, o que representa um terço de toda a superfície da Terra. Sendo o maior de todos os oceanos, o Pacífico também reúne quase a metade do volume de água e da superfície de todos os mares. O Pacífico também possui a marca da maior profundidade já registrada em todos os oceanos, que são os –10.912 metros das Fossas Marianas, localizadas ao sul do Japão.


Extensão do Oceano Pacífico e a localização das Fossas Marianas. O Equador é a linha horizontal que divide a Esfera em duas metades (hemisférios)

Observando o mapa acima, pode-se notar que a bacia do Oceano Pacífico apresenta um aspecto rusticamente circular. À direita ou a leste, é limitada pelas Américas (do Norte, Central e do Sul). Já à esquerda ou no limite extremo oeste do Pacífico, estão localizados o Japão ao norte, o arquipélago da Indonésia ao centro, e a Austrália mais ao sul.


Na região onde a esfera terrestre é dividida em duas metades ou hemisférios norte e sul, está a linha do Equador, que marca também a região mais quente do Planeta, também chamada de zona tropical.



Nessa região central (Equador) da superfície do imenso Oceano Pacífico, em condições normais, os ventos naturalmente ocorrem na direção da direita (leste) para a esquerda (oeste), ou seja, da costa da América do Sul, onde estão o Peru e o Chile, para a Região do outro extremo do Pacífico, onde fica a Indonésia. Esses Ventos são os chamados Ventos Alíseos.



Os Ventos Alíseos acabam empurrando para o oeste uma grande quantidade da camada de água mais quente localizada na superfície do Oceano Pacífico. Essa água mais quente acaba se concentrando próximo da costa da Indonésia, onde, nessas condições, a superfície do Pacífico fica cerca de meio metro mais elevada do que na outra extremidade do mesmo Oceano, na costa da América do Sul, onde está o Peru e o Chile.


Esse fenômeno natural também ocasiona uma subida ou ressurgência das águas mais frias das profundezas do Pacífico, que acabam aflorando na extremidade direita deste Oceano, próximo à costa da América do Sul. Essas águas mais frias das profundezas possuem grande quantidade de oxigênio dissolvido, e também sobem carregadas de nutrientes e microorganismos, que servem de alimento para os peixes daquela região.





A ilustração mostra a ação dos ventos que concentram as águas mais quentes na esquerda ou oeste, e possibilitam o afloramento ou a ressurgência das águas mais frias na extremindade direita ou leste

A costa esquerda da América do Sul é umas das regiões onde há maior abundância de peixes na Terra. A pescaria de anchovas no Chile e no Peru já registrou a impressionante marca de 12 milhões de toneladas capturadas por ano.

Como as águas mais quentes do Pacífico ficam localizadas no extremo oeste, junto à Indonésia, ali ocorre maior evaporação e formação de nuvens. O ar quente também sobe nesse processo de evaporação e é formado então um ciclo de interação e movimento compensatório entre a superfície do Pacífico e a região da atmosfera localizada a cerca de 15 quilômetros de altitude.

Os Ventos Alíseos sopram para a esquerda junto a superfície do Pacifico. A água mais quente é concentrada próximo da Indonésia. Ocorre a evaporação e o ar quente sobe. O ar frio, localizado a cerca de 15 mil metros de altitude, se desloca para a direita. Numa reação compensatória, o ar frio desce na outra extremidade do Pacífico, onde fica a região que abrange o Peru e o Chile, na costa sul-americana, que por sinal acaba registrando baixa incidência de chuvas nessas condições.

Outra ilustração que mostra a ação dos Ventos Alíseos, que concentram a água mais quente, em vermelho e laranja, na estremidade esquerda ou oeste do Pacífico, onde ocorre intensa evaporação e elevação do ar mais quente. O ar mais frio da atmosfera desloca-se para direita ou leste
Tudo no Planeta fica equilibrado até o fenômeno El Niño entrar em cena. O El Niño é, à grosso modo, o aquecimento acentuado das águas da superfície do gigante Oceano Pacífico, na região ao longo da linha do Equador. Mas como isso ocorre?


Em primeiro lugar, os cientistas garantem que o El Niño é um fenômeno natural, que ocorre em alguns anos e em outros não, num ciclo não definido e que dura entre 2 e 7 anos geralmente.

Embora não haja certeza, alguns cientistas afirmam que em anos de El Niño, o aquecimento das águas também é ocasionado pela atividade dos vulcões submersos no Pacífico. Outros afirmam que os El Niños coincidem com os anos de maior incidência das manchas solares.

Atualmente, pelo fato de ser um fenômeno natural, os estudiosos só sabem ao certo prever quando um novo El Niño irá começar, o que irá causar, e quando irá terminar.

Sem que possa ser explicado o motivo certo, um El Niño ocorre quando os Ventos Alíseos ficam mais fracos e até, em certas ocasiões, sopram no sentido contrário ao observado em anos que não há El Niño. Essa mudança interrompe o deslocamento das águas quentes para o oeste, onde está a Indonésia.

Com a diminuição da intensidade dos Ventos Alíseos, as águas mais quentes voltam para o leste, ficando distribuídas por toda a região central do Pacífico, sobre a linha do Equador
A superfície do Pacífico fica mais estável e as águas quentes se distribuem por toda região ao longo da linha do Equador. As águas frias não sobem com nutrientes e oxigênio, o que obriga os peixes a migrarem da costa sul-americana esquerda. Muitos morrem.

A evaporação ocorre em grande escala na superfície central ou equatorial do Pacífico, o que gera intensa subida do ar quente para a atmosfera. Pela lei compensatória, na região que fica a cerca de 15 quilômetros de altitude, o ar frio é empurrado para os lados e acaba descendo já não tão frio, na região da Indonésia, no norte e leste da Amazônia, e no norte da Região Nordeste Brasileira.

Com o El Niño, o Pacífico fica mais quente (região vermelha e laranja). A evaporação ocorre ao longo da linha do Equador, e as águas mais frias, em azul, não emergem mais na costa da América do Sul, à direita, no leste
Ao contrário do que ocorre com a evaporação das águas quentes, esses ares que descem das regiões superiores da atmosfera em anos de ocorrência do El Niño, acabam inibindo a formação de nuvens, o que explica a intensa seca registrada na Amazônia, na Indonésia e no Nordeste Brasileiro em anos de El Niño.

Nos anos de 1982/83 e 1997/98, o fenômeno El Niño ocorreu com maior intensidade em todo o século 20. Em 1997/98, a Indonésia registrou uma das maiores secas de sua história. Muitas pessoas precisaram usar máscaras para suportarem os altos índices de poluição provocada pelas queimadas e pelos gases emitidos grandes cidades.

No Brasil, em 1998, foi registrada grande seca em Roraima, o que ocasionou uma das piores queimadas já ocorrida em todos os tempos na região. No mesmo ano, a seca espalhou fome e miséria na região do semi-árido nordestino brasileiro.

No gráfico que mostra as temperaturas do Pacífico em 1997, ano em que foi registrada a incidência do El Niño com maior intensidade em todo o século 20, as águas mais quentes, em marrom e vermelho, estão distribuídas por toda a região equatorial do Oceano
O El Niño é um fenômeno natural e sempre existiu. Os cientistas pesquisam se o El Niño teria relação com o aquecimento global, mas é necessário separar a variação climática natural ocasionada pelo El Niño, e o aquecimento gerado pelas atividades humanas, diretamente relacionadas com o efeito estufa.

O mestre em Meteorologia, Gilvan Sampaio de Oliveira, responsável pela Operação Meteorológica do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Cachoeira Paulista / SP, esclarece no livro "O El Niño e Você, O Fenômeno Climático", publicado em 1999, alguns tópicos curiosos sobre o El Niño:

"...Muitas vezes durante o episódio de 1997/98, fenômenos que ocorreram como chuvas excessivas que provocaram enchentes foram atribuídas ao El Niño, quando em muitos casos não era verdade. É aquela velha história: já que ele está ai, vamos colocar a culpa nele ... Bastava acontecer algum evento meteorológico extremo para botarem a culpa no pobre El Niño ... Demonizar o El Niño ou achar que ele é uma catástrofe enviada pelos deuses, ou ainda achar que ele é uma das desavenças de final de século ou de final de milênio, não !!!! Ele é um fenômeno natural que sempre existiu e que vai sempre existir.
Não é causado pelo efeito estufa ou pelo aumento de partículas sólidas na atmosfera, como por exemplo a poluição das grandes cidades. Também não é ocasionado pelo chamado buraco na camada de ozônio..." Explica Gilvan Sampaio, nas páginas 1,2 e 3 do livro.

O El Niño já foi observado desde anos remotos, por volta de 622 depois de Cristo (D.C), quando foram verificadas fracas cheias do Rio Nilo, o que prejudicava severamente a atividade agrícola no antigo Egito.

O navegador espanhol Francisco Pizarro registrou uma contracorrente oceânica que vinha do norte para o sul, na costa esquerda da América do Sul, em 1525.

No final do século 19, marinheiros que percorriam em pequenas embarcações a costa do Peru e do Chile, no oeste da América do Sul, observaram a mesma corrente que surgia só em alguns anos, no período próximo ao Natal; por isso, passaram a chamá-la de El Niño (O menino em espanhol), em referência ao menino Jesus.

A chegada da corrente coincidia com chuvas fortes, que transformavam algumas regiões desérticas em frondosos jardins. Por outro lado, os peixes e os pássaros que se alimentavam deles desapareciam daquela região nos períodos dos anos em que ocorria a curiosa corrente.

Ao contrário do El Niño, também pode ocorrer em alguns anos, um resfriamento acentuado das águas centrais do Pacífico, o que também ocasiona diversos distúrbios climáticos no mundo. Nesse caso, o fenômeno é chamado de La Niña (a menina em espanhol).
Cássio Ribeiro. E mail: zzaapp@ig.com.br

sábado, 8 de março de 2008

MULHERES DE ONTEM, HOJE E SEMPRE

Como diz o ditado popular: "Por trás de um grande homem, sempre há uma grande mulher". Foi assim com Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, Juan Domingo e Evita Perón, Jaqueline Onassis e John Kennedy, Lampião e Maria Bonita e até, deixando-se o adjetivo "grande" em segundo plano, Adolf Hitler e Eva Braun.

Seja no início dos relatos bíblicos, com Adão e Eva, ou dividindo os pequenos corredores e cubículos da Estação Espacial Internacional na órbita da Terra atualmente, as mulheres sempre estiveram ao lado dos homens contribuindo de alguma forma para a preservação e a evolução da espécie, percorrendo um longo caminho de conquistas, realizações e valorizações.


No início da ocupação do homem sobre a Terra, a mulher contribuía de forma submissa, cuidando dos menores e dos jovens. Elas viviam em grupos e trocavam experiências do dia-a-dia, enquanto que os homens mais fortes iam caçar e guerrear. Essas atividades distintas, claramente atribuídas e desempenhadas no período primitivo, influenciaram no desenvolvimento diferente das atividades sensoriais e no funcionamento cerebral de homens e mulheres.

O homem, como precisava achar e perseguir a caça à distância, desenvolveu um campo visual de procura e localização mais longitudinal e em forma de túnel. A mulher, como precisava ficar atenta às mínimas ameaças para as crias dentro das cavernas, desenvolveu seu campo visual de procura mais periférico e próximo, quase numa abrangência de 180 graus; como mostra, baseado em pesquisas, o livro ‘Por Que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor’ de Allan e Bárbara Pease.


A contribuição da mulher nos tempos primitivos, embora sem atuação bélica, favoreceu, e muito, a preservação da espécie humana até os dias atuais. Elas colhiam os frutos e logo descobriram que as sementes davam origem a novos exemplares da mesma planta. Assim, surgiu o cultivo e a propriedade privada. Nos tempos primitivos, a mulher quase não menstruava, pois praticamente não havia intervalo entre uma gravidez, a amamentação e a próxima gravidez.


Numa versão tupiniquim da mulher primitiva, foram relatados pelo navegador espanhol Francisco de Orellana pela primeira vez, em 1541, episódios que deram origem a ‘Lenda das Amazonas’ — a (sem) + mazos (seios) —, uma tribo de índias guerreiras que retiravam um dos seios, ou os dois, para manusearem melhor as armas, montadas sobre cavalos às margens do Mar Dulce, atual Rio Amazonas, que, assim como o Estado, foi batizado com o nome das guerreiras que só admitiam homens na tribo para uma rápida cópula. Se nascessem meninas, ficavam e aprendiam o ofício da guerra com as mães. Os meninos eram enviados para as tribos dos pais.


Ilustração das amazonas


Na história das participações sociais e políticas da mulher, foi Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945, quem primeiro estabeleceu benefícios às mulheres no Brasil; como o direito ao voto e a igualdade trabalhista. Porém, a estrutura de submissão das cavernas permaneceu na instituição social ocidental do matrimônio até a geração que nasceu antes da década de 60. Até essa época, mulher desquitada era considerada meretriz. Essa estrutura de submissão permanece atualmente em algumas culturas que se orientam pelo livro sagrado do Islamismo, o Alcorão.


A década de 60 marcou profundas transformações no mundo: ida do homem à Lua, primeira transmissão de TV ao vivo via satélite, lançamento do topless, confronto entre Comunismo e Capitalismo pelo mundo, Guerra do Vietnã, Muro de Berlim, primeira mulher enviada ao espaço pela União Soviética em 19 de junho de 1963 e a Ditadura Militar no Brasil e em diversos países América do Sul. Eram os anos de chumbo repletos de manifestações e festivais. De Woodstock ao Movimento Feminista que começava a ganhar força, baseado na idéia de que a sociedade era organizada com referências patriarcais e que, por isso, o homem receberia vantagens sobre a mulher, que acabava sofrendo preconceitos profissionais e pessoais.


O Movimento Feminista tem uma de suas primeiras manifestações antes do século 19, na publicação do livro ‘Em Defesa dos Direitos da Mulher’, de Mary Wollstonecraft. Essa primeira corrente foi chamada de 1ª onda. A explosão do Movimento na década de 60 foi chamada de 2ª onda e, atualmente, existe a 3ª onda; mas cada uma é a redescoberta da fase anterior, e aproveitou suas características principais e reivindicações.


Um dos principais ícones do feminismo atual, ou 3ª onda, destacou-se na década de 80. A "Dama de Ferro" Margaret Thatcher foi eleita primeira ministra inglesa pelo Partido Conservador em 1979. Promoveu a consolidação do neoliberalismo, reduzindo por meio de privatizações, os controles estatais. Desestabilizou também os sindicatos e o Socialismo inglês com pulso firme e autoritarismo, características suas desde a adolescência.


A "Dama de Ferro" Margaret Thatcher


Já no cenário político brasileiro atual, a alagoana Heloísa Helena representa a participação ativa da mulher na luta política nacional. Tachada de radical pelo PT, a senadora acabou expulsa do Partido e fundou o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade).

Dois momentos de Heloísa Helena: em luta no Senado Federal ...


e produzida para o ensaio fotográfico de uma revista feminina

Hoje, as mulheres estão em todos os ramos de atividade profissional, inclusive nos militares. Atiram, marcham e carregam mosquetões de 5 quilos nas costas durante os acampamentos, além de, assim como os homens, rastejarem sobre a lama e participarem dos exercícios com cordas do tipo falsa baiana.

As primeiras mulheres ingressaram nas forças armadas em 1982. Primeiro na Marinha e, no mesmo ano, meses depois, na Aeronáutica em um curso realizado em Belo Horizonte. Em 1998, a cidade de Guaratinguetá recebeu as primeiras alunas num curso pioneiro que durou 6 meses na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAr).


O detalhe da perfeição de uma tropa feminina da EEAr em forma ...


e alunas do curso de Cartografia da mesma Escola


A partir de 2002, elas chegaram na EEAr para o Curso de Formação de Sargentos (CFS), realizado em um ano e meio na época e, atualmente, se estendendo por 2 anos de internato semanal.

Sempre em conjunto, homem e mulher, mulher e homem, formaram e formam as cenas da vida. É oportuno lembrar também que, ao lado dos grandes jogadores de futebol sempre estão lindas mulheres. Porém, uma das mulheres mais famosas da história do futebol brasileiro é a carioca Rosenery Mello, que soltou um sinalizador marítimo no Maracanã durante o jogo entre Brasil e Chile, em 1989, válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1990.

O sinalizador caiu enfumaçando no gramado perto do goleiro chileno Roberto Rojas, que aproveitou para cortar o próprio supercílio com um pequeno estilete que carregava escondido na luva. Os chilenos saíram de campo, abandonando a partida quando o placar marcava 1 x 0 para a Seleção Brasileira. A farsa foi descoberta, o Chile suspenso de competições da FIFA por 8 anos e Rojas banido do futebol. Rosenery virou a celebridade Rose Fogueteira e acabou posando para uma famosa revista masculina.

Rose Fogueteira: pivô da farsa armada pela Seleção Chilena no Maracanã, em 1989

Seja na administração ou nos cuidados com a caverna, dando apoio aos seus companheiros primitivos; ou de armas em punho nos acampamentos militares e nas patrulhas noturnas na selva, a grande mulher atual não está somente por trás dos grandes homens; surge ao seu lado em igualdade de condições sociais e políticas. Nada mais justo para quem é capaz de gerar vida em seu íntimo, moldando assim, os grandes homens; escrevendo, com a esfericidade de suas barrigas, a história da perpetuação da humanidade.

Cássio Ribeiro. E-mail: zzaapp@ig.com.br