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sexta-feira, 27 de junho de 2008

A EXPLOSÃO DO ÔNIBUS ESPACIAL CHALLENGER

Embora os russos tenham dado o primeiro passo da corrida espacial, enviando o primeiro homem, Yuri Gagarim, em 1961, a um ponto orbital além da atmosfera do planeta Terra, os americanos acabaram passando a frente na busca pelo domínio sobre a ida ao espaço e sua ocupação.


Tudo estava pronto no Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Flórida, para o lançamento da 25ª missão da Agência Espacial Norte-Americana (NASA). Estacionado na recém-reformada plataforma 39 B, o ônibus espacial Challenger está preso a dois foguetes modelo SRB, fabricados pela empresa Morton Thiokol.

Tudo pronto para mais um lançamento em Cabo Canaveral, na Flórida


Desde o primeiro lançamento do programa espacial dos Estados Unidos, realizado em 1981, o interesse do público americano sobre as atividades da NASA diminuiu bastante, e a opinião pública parecia ter perdido a consciência sobre a magnitude do projeto.


O lançamento da Challenger era encarado como rotina no ponto de vista técnico, porém, uma novidade nessa missão fazia a imprensa voltar sua atenção para o lançamento como em nenhuma das outras 24 investidas anteriores da NASA ao espaço.


Na missão da Challenger, foi posto em prática um esforço do governo do presidente Ronald Reagan para levar um cidadão comum ao espaço e, com isso, promover a popularidade do programa espacial americano que havia diminuído desde o primeiro lançamento.


A professora de ensino médio Christa McAuliffe estava incluída entre a tripulação da Challenger, e disse na ocasião que antecedia o lançamento: “Uma das coisas que espero poder ensinar na sala de aula é que eles, os alunos, também fazem parte da História; que o programa espacial pertence a eles também, e pretendo aproximá-los da era espacial. Acho que nunca um professor esteve mais preparado para dar essas aulas. Venho preparando-as desde setembro e espero que todos estejam sintonizados no quarto dia para assistir a um professor dando aula a partir do espaço.”

O ex-presidente Ronald Reagan, ...


e a professora Christa McAuliffe


O projeto da missão previa que Christa faria pouco abordo da Challenger. Só após o quarto dia no espaço, ela seria o centro das atenções ao ministrar duas aulas para seus alunos a partir do ônibus espacial.


O sucesso em despertar o interesse do público com a inclusão de uma pessoa comum nas missões espaciais já abria estudo para outras participações, incluindo jornalistas e operários nas próximas idas ao espaço.


O comandante da missão era o ex-piloto da força aérea americana, Francis Dick Scobee, que afirmou na ocasião antes do lançamento da Challenger: “É um prazer estar em Cabo Canaveral e participar de algo que se faz melhor aqui do que em qualquer lugar do mundo: o lançamento de veículos espaciais.”


O piloto era Mike Smith e a missão da Challenger foi seu primeiro vôo em um ônibus espacial. O Vôo contava ainda com mais quatro especialistas: Judy Resnik, Ellison Onizuka, Ron McNoir e Greg Jarvis. Porém, o foco da atenção da imprensa era a professora Christa McAuliffe.

Os sete astronautas da missão da Challenger. Em pé: Elison Onizuka, a professora Christa McAuliffe, o especialista em carga útil Greg Jarvis, Judy Resnik e, abaixados: o piloto Mike Smith, o comandante Francis Scobee e Ron McNoir

É 27 de janeiro de 1986 e os astronautas começam a embarcar na Challenger, onde aguardarão até às 9h37min, horário previsto para o lançamento. Os controladores de vôo só embarcam a tripulação depois de todo o sistema ter sido testado. As condições da tripulação abordo são desconfortáveis. São 8h30min e os sete astronautas estão na “sala branca”, que é a antecâmara da Challenger.

A equipe de apoio executa o travamento manual da cabine, mas a verificação do fechamento indica que algo está errado. A porta está trancada, mas o indicador de segurança mostra que não. Os técnicos verificam que a trava está posicionada corretamente, mas parece que o indicador de segurança está com defeito.

O programa espacial americano já havia enfrentado uma série de falhas técnicas e quase todo lançamento teve que lidar com problemas antes da decolagem, durante e após os vôos. A característica arrojada do programa espacial sempre levou a NASA até o limite evolutivo da tecnologia disponível.



Enquanto a tripulação espera o concerto do indicador de segurança dentro da Challenger, a velocidade do vento na plataforma de lançamento está em 8 metros por segundo, que é o ponto limite a partir do qual é preciso cancelar o lançamento. Ao ser removida a barra da entrada da cabine, é constatado que o pino de segurança está com defeito.
Para realizar o reparo, é preciso esperar até que uma furadeira seja entregue, pois nenhuma ferramenta que possa produzir faísca é guardada no local onde o combustível dos foguetes propulsores poderia ser inflamado antes do momento exato de ignição.

O lançamento previsto para o dia anterior, 26 de janeiro, já foi adiado em função da previsão de mau tempo, mas na prática não houve mau tempo. Em 27 de janeiro, as condições climáticas também eram preocupantes, além do defeito existente no travamento da porta da Challenger.


O defeito no travamento da porta da Challenger foi resolvido, porém, às 12h50min, o vento forte fez o controle da missão adiar o lançamento mais uma vez. Os sete astronautas deixaram a nave e retornaram aos alojamentos do centro de lançamento para descansarem. Meio milhão de dólares em combustível teve que ser retirado do tanque externo e desperdiçado.

Para chegar à sua órbita ao redor da Terra, a Challenger dependia dos foguetes SRB, que custavam 50 milhões de dólares o par e faziam o ônibus espacial subir a uma velocidade de 1600 metros por segundo.


Depois do lançamento, os SRB eram separados dos ônibus espaciais e caíam de pára-quedas no mar, de onde eram resgatados e levados novamente para a empresa fabricante, a Morton Thiokol, em Utah, para serem recondicionados e aproveitados em outro lançamento.


O ônibus espacial é um tipo de avião que, ao ser lançado, está acoplado a um grande tanque externo de combustível líquido (oxigênio e hidrogênio), em vermelho na ilustração.Os foguetes auxiliares SRB vão acoplados ao grande tanque de combustível vermelho ...

Dois minutos após o lançamento, o combustível sólido dos foguetes auxiliares SRB se esgota. Eles se detacam do conjunto e caem de pára-quedas no mar, de onde são recuperados e preparados para outro lançamento. Nove minutos após o lançamento, o ônibus espacial já está fora da atmosfera e o combustível do tanque externo vermelho se esgota. Ele se desprende do ônibus, caindo em direção à Terra. O tanque se incendeia e é destruído quando entra em contato com o atrito da atmosfera, sendo ele a única parte do conjunto que não é reaproveitada em outro lançamento. O ônibus espacial entra em órbita ao redor de nosso planeta e, quando termina a missão, volta à Terra e pousa como um avião comum

Momento em que os foguetes auxiliares SRB se destacam do ônibus espacial, caindo no mar. Pára-quedas acoplados nos bicos dos foguetes garantem um retorno suave e possibilitam que os SRB possam ser recondicionados e usados em outro lançamento

A Morton Thiokol forma um complexo de 40 quilômetros quadrados e marca a paisagem de Brigham City, em Utah. A empresa era a contratada da NASA para produzir os propulsores dos foguetes que impulsionam os ônibus espaciais.


Os SRB eram construídos em partes para que o transporte ferroviário de Utah até Cabo Canaveral fosse facilitado. As partes eram então reunidas perto da plataforma de lançamento.


Cada junção entre as partes dos foguetes SRB eram vedadas com imensos anéis de borracha. Esses anéis dilatavam-se para fechar as brechas entre as partes dos foguetes SRB durante os lançamentos, evitando assim o vazamento catastrófico de gás superaquecido.


Quando os SRB foram recuperados após o lançamento do ônibus espacial Discovery, na missão anterior a da Challenger, em 1985, ocorreu a suspeita de vazamento de gás superaquecido, que teria passado pelos anéis de vedação. Os engenheiros da Morton Thiokol concluíram que o vazamento foi ocasionado pelas baixas temperaturas que prejudicaram o funcionamento correto dos anéis de vedação, registradas antes do lançamento da Discovery.

Em Cabo Canaveral, a previsão indicava temperaturas abaixo de zero na virada do dia 27 para o dia 28 de janeiro de 1986, que era a nova data prevista para o lançamento da Challenger.


Os engenheiros da Morton Thiokol tentaram reunir provas de que a baixa temperatura prejudicava o funcionamento dos anéis de vedação dos foguetes SRB. Eles estavam certos de que o problema dos anéis já se configuava em temperaturas de 10 graus. A situação era ainda mais perigosa diante das temperaturas abaixo de zero registradas antes do lançamento da Challenger.


Para os engenheiros não havia outra alternativa senão adiar o lançamento até que a temperatura aumentasse. A NASA alegou que a influência da temperatura sobre os anéis de vedação jamais havia entrado em questão, e afirmou que outro cancelamento do lançamento estava fora de cogitação.


Em Cabo Canaveral, temperaturas abaixo de zero foram registradas assim que o Sol se pôs. Cristais de gelo começaram a se formar na plataforma de lançamento, configurando as condições que os engenheiros da Morton Thiokol tanto temiam antes do lançamento.


A reunião entre os engenheiros da Morton Thiokol chegou ao fim e todos estavam exaustos. Um deles, Roger Boisjoly, resolveu escrever um relatório:

“Depois de muita discussão, das 13h às 20h30, a recomendação dos engenheiros foi de que o vôo fosse adiado até que a vedação atingisse 12º C, de acordo com nosso banco de dados. A NASA não gostou das recomendações e nossos diretores formaram uma junta para votar uma decisão. O resultado foi que nosso diretor decidiu que o risco era pequeno, baseado no pressuposto de que a temperatura não era impedimento. Nós da engenharia, tentamos uma vez mais ressaltar que o problema era a programação do lançamento sob baixa temperatura. Espero sinceramente que esse lançamento não termine em uma catástrofe."


Faltam 11 horas para o lançamento, que está previsto para perto de meio-dia. É uma hora da manhã e são lançados 5300 litros de anticongelante na tentativa de impedir a formação de gelo nos foguetes e na Challenger.

Apesar dos atrasos, a missão da Challenger já havia garantido grande publicidade para a NASA e para o governo Reagan, que promoveu a inclusão de uma professora no programa espacial. Christa McAuliffe foi selecionada após uma semana de testes rigorosos aplicados aos 10 finalistas escolhidos num total de 11 mil professores que concorreram.


O público ficou entusiasmado com a história de uma esposa comum, professora e mãe de dois filhos, levada ao espaço: “Quando o ônibus espacial partir, haverá um só corpo, mas levarei comigo 10 almas”, disse Christa.


Outro registro dos sete astronautas antes do lançamento

São 6h18 do dia 28 de janeiro e os sete astronautas da Challenger acordam. O controle da missão avisa que poderá haver atrasos causados por problemas de temperatura. Uma equipe continua a limpar o gelo ao redor da plataforma de lançamento.

Enquanto a professora Christa se prepara para embarcar, os técnicos a presenteiam com uma maçã. Ela devolve a fruta e diz: “Guardem para mim. Vou comê-la quando voltar.”

A contagem regressiva marca os últimos 9 minutos. No local do lançamento, o tempo está limpo e frio. Jay Green controla a missão de lançamento a partir de Houston. Ele se encontra com os 11 membros de sua equipe e todos gritam: “Vamos lançar!” A contagem regressiva de 9 minutos é iniciada. A torre de controle diz: “verificando a pressão do oxigênio líquido”.

Faltando 10 segundos para a subida, jatos d’água são lançados para abafar o barulho do lançamento. A ignição dá início à inflamação dos gases congelados dos motores. A força é tão intensa que faz o ônibus espacial chacoalhar na plataforma. Quando volta à posição inicial, a Challenger é lançada. Uma voz exclama a partir do centro de controle: “É a 25ª missão de lançamento e já deixa para trás a torre da plataforma.”

Lançamento da Challenger


A cada segundo de subida, o foguete queima 10 toneladas de combustível sólido. Ao chegar aos 6 mil metros de altitude, os três motores principais da Challenger reduzem a velocidade a 65%, antecipando-se a carga de estresse que os engenheiros chamam de Q máximo, que é a pressão aerodinâmica máxima.


Quando a Challenger chega aos 15 mil metros, os motores são novamente exigidos em potência máxima. A torre comunica: “Três motores agora em 104%. Challenger, prossiga com propulsão total”. O piloto responde: “Aumentando propulsão!”


Nesse instante, a quase 17 mil metros, o vazamento de gás superaquecido que passa pelos anéis de vedação defeituosos faz o foguete SRB explodir. A Challenger e seus sete astronautas se desintegram em pleno ar. A marcante imagem de um Y no céu é formada após os restos dos foguetes auxiliares saírem voando descontrolados, antes de serem destruídos por controle remoto 30 segundos após a explosão.

No primeiro quadro, a seta branca mostra o vazamento de gás superaquecido em tom mais claro. No segundo quadro, o vazamento é bem maior e ocasiona a catastrófica explosão que faz os restos dos foguetes auxiliares SRB sairem voando ...

em duas direções, formando a impressionante imagem de um imenso Y no céu, ...

antes de caírem e serem destruídos por controle remoto



A explosão foi assistida ao vivo pelos alunos da professora Christa, em um telão na escola onde ela trabalhava em Concorde. A equipe de salvamento se apressou nas buscas imediatamente após o acidente, mas não havia sobreviventes.

A comissão de inquérito decidiu que os diretores da NASA não estavam cientes das questões levantadas pela fabricante Morton Thiokol. Também foi concluído que a Morton não apoiou a opinião de seus engenheiros, voltando atrás de sua posição diante das pressões da NASA.

Cássio Ribeiro

Críticas e sugestões: e-mail zzaapp@ig.com.br e orkut http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=18423333339962056517

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O FUTEBOL DE MESA

Década de 60. O premiado pianista Arthur Moreira Lima está exilado em Moscou, na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A vida distante do Brasil foi a melhor alternativa encontrada diante da repressão imposta pela ditadura militar brasileira.


Ao arrumar a bagagem para a partida, Moreira Lima não esqueceu seu inseparável time de botões do Fluminense e, depois de alguns meses em Moscou, as regras do futebol de botão já tinham sido ensinadas a alguns soviéticos, que enfrentavam o pianista em partidas disputadas em pleno frio asiático.


Quando os amigos brasileiros iam visitar o pianista, também levavam suas equipes dentro das malas. Foi o que fez o arquiteto Alfredo Brito, em 1967, quando embarcou em um trem na Polônia, carregando um time do Botafogo em direção a Moscou, para a disputa do clássico entre Fluminense e Botafogo, conhecido como o clássico vovô do futebol carioca.


Na fronteira russa, Alfredo Brito foi revistado por policiais soviéticos que subiram no trem. A caixa com os botões, ao ser aberta, levantou suspeitas sobre o brasileiro. Os policiais queriam saber o que eram aquelas peças estranhas, acompanhadas de uma caixa de fósforos cheia de parafusos, que para os russos, certamente, seria uma bomba de estilhaços. Brito disse que se tratavam de football toys, e o nome da bomba era Osvaldo Baliza, goleiro do Botafogo no final da década de 40.


Toda a estranheza despertada nos russos se deu pelo fato de o futebol de botão ser um esporte muito conhecido só por aqui, sendo inclusive citado por muitos pesquisadores como um esporte genuinamente nascido no Brasil, embora não hajam registros preservados sobre a origem oficial do jogo de botão.


O autor Ubirajara Godoy Bueno, que escreveu o livro 'Botoníssimo', publicado em 1998, afirma que não há provas de que os garotos que brincaram de botão pela primeira vez fossem brasileiros, mas há muitos indícios.



No Brasil, quase todo garoto entre a década de 20 e o final do século passado tirou a cesta de frutas e o pano que cobria a mesa de jantar de casa, para a disputa de uma animada partida. O “gramado” onde a bola corria durante os ataques e as tabelas entre os craques também podia ser improvisado em pátios de pedra polida e em corredores de madeira, porém, o “piso” preferido eram os lisos tacos em madeira, com uma convidativa camada de sinteco recém-aplicada. Na ausência do sinteco, a aplicação de cera doméstica comum resolvia muito bem a questão do toque de bola.

Jogador de futebol de botão é muitas vezes taxado como doido. Várias pessoas expressam incisivo preconceito quando vêem um marmanjão, muitas vezes cheio de cabelos brancos, debruçado sobre a mesa com uma palheta nas mãos. Alguns botonistas famosos que já passaram por tal situação são Jô Soares, Armando Nogueira, Casagrande e Chico Anísio.


O primeiro livro de regras sobre o futebol de botão foi o “Regras Officiaes do Football Calotex”, escrito pelo brasileiro Geraldo Décourt, aos 19 anos, em 1930. Décourt, que virou patrono do futebol de botão anos mais tarde, deu o nome de calotex ao jogo, porque calotex era o material importado com o qual se fabricavam as mesas domésticas na época.

Geraldo Décourt, patrono do futebol de botão

Embora os primeiros jogadores fossem tampas acrílicas de relógio disputadas por garotos nos balcões dos relojoeiros, durante a primeira metade do século passado, também marcaram época os “atletas” feitos a partir de casca de coco envernizada.

Os primeiros craques de tampa de relógio

O que acabou dando o nome pelo qual o jogo é mais conhecido foram os enormes botões roubados das casacas da época. O futebol de botão usava inicialmente como bola, miolo de pão amassado, grãos de feijão, e irregulares formas próximas de cubos, esculpidas à gilete em rolhas de cortiça.
Os botões industrializados em acetato e os de galalite só começaram a ser produzidos na década de 1970. Nos anos 80, federações surgiram em todo o Brasil e o pequeno cubo, ou dadinho, roubou o cenário das outras bolas.
Trave dos anos 70, ...

e o goleiro de caixa de fósforos, como o que foi confundido com uma "bomba" sendo levada para Moscou

Botão do Bangu /RJ, em duas camadas e com faixa central de galalite ou madrepérola, fabricado na década de 80


Botões do São Paulo e do Borússia em lance de disputa pelo dadinho, próximo ao meio de campo

Em 1988, o Conselho Nacional de Desportos concedeu a categoria de esporte ao jogo, com o pomposo nome de Futebol de Mesa. Foram oficializadas três regras: a baiana (onde cada jogador só pode dar um toque por vez na bola), a carioca (3 toques) e a paulista (12 toques). A bola esférica também foi introduzida. Com exceção do Brasil, o futebol de mesa não é reconhecido como esporte em nenhum outro país do mundo.

Antigos botões com as imagens de Jairzinho, Garrincha e Pelé, junto às modernas bolas esféricas

Partida de futebol de mesa em andamento

Na década de 90, o Clube dos 13, que reúne os 13 maiores times de futebol do Brasil, começou a cobrar fortunas pela licença dos escudos colocados pelas fábricas sobre os botões. Com isso, a produção nas indústrias baixou significativamente.


Com a evolução constante da realidade virtual dos videogames, o futebol de mesa foi perdendo espaço entre a garotada. Mesmo assim, hoje ainda existem muitos botonistas que realizam animados campeonatos em garagens, clubes e federações.



A Federação Paulista de Futebol de Mesa, fundada em 1962, conta hoje com mais de 3 mil sócios, e é reconhecida pela Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM). Outra filiada à CBFM é a Federação Botonista do Estado do Rio de Janeiro (FEBOERJ).

Os escudos da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa ...

e da Federação Paulista de Futebol de Mesa


O esporte conta com vários endereços na Internet, como o http://www.futeboldemesanews.com.br/, onde o internauta pode saber quais são os principais campeonatos em andamento e seus resultados, como também se inscrever para participar de torneios abertos a várias categorias. Um dos links na página inicial do site tem o nome de futebol de mesa de batom, e mostra entrevistas com algumas mulheres praticantes do esporte.



Já no blog www.escudosdebotao.blogspot.com/, o botonista pode baixar e imprimir escudos de clubes de todos os estados do Brasil, como também fotos dos rostos de jogadores que marcaram época em equipes italianas. Tudo isso poderá ser fixados como “camisa” nos seus craques.


Atuais botões e goleiros usados em jogos oficiais

Professoras e psicólogas que introduziram o futebol de mesa nas atividades das crianças com as quais trabalham afirmam que o esporte ajuda as crianças a desenvolverem a coordenação motora global, o raciocínio lógico-matemático, o trabalho em equipe, a concentração e o aprendizado geral por meio do lúdico. De fato, muitas qualidades para quem nunca viu nada de bom e interessante nesse esporte tão brasileiro, e até já confundiu um goleiro do Botafogo com uma bomba de estilhaços prestes a ser detonada por um brasileiro “terrorista” arquiteto num trem a caminho de Moscou.

Cássio Ribeiro

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sexta-feira, 13 de junho de 2008

A COLONIZAÇÃO HOLANDESA NO BRASIL

Os holandeses só se fixaram à força no Brasil, e ficaram por aqui colonizando o Nordeste de nosso país durante 24 anos, devido a alguns acontecimentos históricos que acabaram transformando os antes principais aliados comerciais de Portugal, em inimigos que travaram grandes batalhas pelo domínio da Bahia, Pernambuco, Maranhão e Rio Grande do Norte.


Os holandeses participavam ativamente do transporte da cana produzida nas colônias portuguesas, como também do seu refino e a comercialização do produto final no rendoso mercado europeu. A Espanha dominava o que hoje são os Países Baixos (Holanda e Bélgica), regiões da Itália (Sardenha, Nápoles e Sicília), além de colônias nas três Américas, na África e no oriente.

Em 1578, o rei de Portugal Dom Sebastião morreu na Batalha de Alcácer-Quibir, na África, onde os portugueses foram derrotados pelos Árabes. Dom Sebastião não tinha filhos e, por esse motivo, seu tio-avô, o já idoso Cardeal Dom Henrique, assumiu o trono português. Dom Henrique morreu dois anos depois, em 1580, deixando novamente sem dono a Coroa Portuguesa.



Surgiram vários pretendentes querendo ocupar a posição de rei de Portugal, entre eles, figuravam em destaque os dois principais candidatos, que eram o poderoso rei da Espanha, Felipe II, e um certo Dom Antônio, unânime preferido do povo português. O rei Dom Henrique, em seu leito de morte, não quis coroar Dom Antônio, facilitando o caminho para que o rei espanhol Felipe II passasse também a ser o rei de Portugal.


Pouco antes do rei Dom Henrique morrer, o povo português cantava o seguinte corinho nas ruas: “Viva el-rei Dom Henrique, no inferno muitos anos, por deixar em testamento, Portugal aos castelhanos”.
Felipe II chegou ao trono português porque era neto, pelo lado materno, do rei português Dom Manoel, conhecido também como O Venturoso. Pelo lado paterno, Felipe II descendia da casa real da Áustria, ou família Habsburgo, que realizou uma série de casamentos no século 16 visando interesses políticos. Dessa forma, os Habsburgo conseguiram reunir um imenso território que abrangia porções de terra em todos os continentes. Com a nomeação de Felipe II para ocupar o trono lusitano, Espanha e Portugal formaram a União Ibérica (1580 – 1640), dominada pela Dinastia Filipina.
O poderoso rei espanhol Felipe II, que acabou anexando Portugal por meio da União Ibérica, ...
e o escudo de sua família real, os Habsburgo, que dominou regiões em todo o Globo. No brasão, é possivel observar em sua parte superior, o leão holandês, o Brasão de Portugal, as águias germânicas e a bandeira da casa real da Áustria, além de símbolos de outros territórios do imenso reino de Felipe II
A Holanda, que também era dominada pela dinastia Filipina, declarou-se independente em 1581. Em represália, Felipe II proibiu todas as relações comerciais entre os holandeses e as colônias espanholas e portuguesas em todo o mundo, incluindo o Brasil.

Essa medida representou um forte golpe na economia holandesa, baseada em grande parte nas relações comerciais com a colônia brasileira. Para a nova classe social dominante holandesa, formada pelos ricos comerciantes de Amsterdã que ascenderam ao poder depois que a Holanda se libertou da Espanha, a principal prioridade foi recuperar o domínio do monopólio comercial do açúcar produzido no Nordeste brasileiro.

Foi nesse cenário que aconteceram as invasões holandesas no Brasil. Muitos historiadores consideram como a primeira tentativa de invasão holandesa no Brasil, a investida da expedição do almirante Olivier Van Noort, que em 1599, ao passar pelos arredores da entrada da Baía da Guanabara, na então Capitania do Rio de Janeiro, pediu apoio para obter suprimentos frescos e higienizar seus 4 navios, já que enfrentava um surto de escorbuto entre sua tripulação de 248 homens.


O governo da Capitania do Rio de Janeiro, obedecendo as ordens da metrópole luso-espanhola, não permitiu a aproximação dos quatro grandes navios holandeses, que foram repelidos por tiros de canhão da artilharia da Fortaleza de Santa Cruz da Barra.


Os holandeses comandados por Van Noort só conseguiram atracar mais ao sul, na praticamente deserta Ilha Grande/RJ, onde puderam finalmente higienizar suas embarcações.

O holandês Olivier Van Noort, que deu a volta ao mundo e enfrenttou um surto de escorbuto entre seus homens, quando passava pelo litoral do RJ, em 1599

A Holanda era uma das potências marítimas das Grandes Navegações nos séculos 16 e 17

Partiram do RJ e, já em 6 de fevereiro de 1600, cruzaram o Estreito de Magalhães e navegaram pelo oceano Pacífico, ao longo das costas do Chile e do Peru, onde saquearam e queimaram várias embarcações, algumas espanholas inclusive. Depois de cruzarem todo o Pacífico, chegaram às Filipinas, onde afundaram umas das principais embarcações espanholas da época, o galeão mercante San Diego, que naufragou pesando trezentas toneladas. Os destroços do navio foram encontrados em 1995, ainda carregados com um imenso tesouro em moedas de ouro e peças de porcelana.


O holandeses ainda saquearam as Filipinas e visitaram Java, antes de contornarem o Cabo da Boa Esperança, no Sul da África, e seguirem de volta para a Europa. Atracaram finalmente de volta a Roterdã, em 26 de agosto de 1601, só com um dos quatro navios iniciais, tripulado apenas por 45 sobreviventes dos 248 integrantes que começaram a expedição em 1598. Alguns historiadores atribuem a Olivier Van Noort a descoberta da Antártida nesta viagem.


A primeira invasão oficial holandesa no Brasil aconteceu em 1624. A poderosa Companhia das Índias Ocidentais, criada pela rica classe de comerciantes holandeses para dominar as colônias espanholas nas Américas, preparou uma imensa e poderosa esquadra para atacar a Bahia, porém, a notícia sobre os planos da invasão chegaram ao Brasil muito antes do fato acontecer.


O governador geral da Bahia, Diogo de Mendonça Furtado, tentou organizar uma resistência antecipada, mas a demora da chegada dos holandeses fez os preparativos para a defesa serem negligenciados.

Em 9 de maio de 1624, 26 navios comandados pelo holandês Jacob Willekens, com 1700 soldados e 1600 tripulantes abordo, entraram na Baía de Todos os Santos e tomaram Salvador em menos de 24 horas, diante de uma modesta e inútil tentativa de resistência. Muitos dos soldados portugueses que defendiam a costa brasileira abandonaram os combates na ocasião. Os holandeses tomaram 8 navios e atearam fogo em outros 7


O governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso e embarcado para a Holanda. Os portugueses, mesmo com a ocupação Holandesa, fizeram questão de não reconhecer a perda do território. Dom Marcos Teixeira, então quinto bispo do Brasil, foi nomeado pelos portugueses como o novo governador da Capitania invadida.

Dom Marcos organizou a resistência contra os invasores. Como as forças portuguesas e brasileiras não tinham condições de travar uma batalha frontal com os holandeses, foi adotada a tática de emboscadas. O emprego do fator surpresa nos ataques possibilitou sucesso aos defensores locais. Morreram os holandeses Johan Van Dorth, comandante dos soldados invasores, e seu sucessor, Willem Schouten. Salvador passou a ser um cenário de confinamento para os holandeses completamente cercados. Os suprimentos chegavam pelo mar.


Em 1625, no fim de março, a Espanha enviou 52 navios ao Brasil (30 espanhóis e 22 portugueses), com cerca de 13 mil homens. Os holandeses foram obrigados a assinar a rendição. O governante holandês Hans Kijff aceitou as condições impostas: entrega da cidade de Salvador com toda artilharia, armas, munições, bandeiras e navios que estavam no porto; entrega de todo dinheiro, ouro, prata, jóias e escravos que estivessem na cidade ou nos navios; restituição de todos os prisioneiros; exigência de que os vencidos não lutariam contra a Espanha até chegarem à Holanda. Aos holandeses, foram prometidos navios, armas e mantimentos suficientes para o retorno à sua pátria.

A derrota na invasão da Bahia gerou imenso prejuízo aos cofres da Companhia das Índias Ocidentais, porém, as vultosas perdas econômicas foram compensadas quando o almirante holandês Pieter Heyn aprisionou uma esquadra espanhola com um dos maiores carregamentos de prata da História, durante viagem entre o México e a Espanha.


Todo o lucro obtido foi investido para financiar uma nova expedição invasora ao Brasil. O alvo foi a Capitania de Pernambuco, que era o maior centro açucareiro do Brasil Colônia.

O governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, preparou suas forças para resistir aos invasores, apenas com os recursos existentes em Pernambuco na época. A tropa de defensores era formada por apenas 27 soldados. Em 14 de fevereiro de 1630, uma esquadra de sessenta embarcações holandesas, com um total de 7 mil homens, chegou para colonizar Olinda.
Foram enviados reforços portugueses e espanhóis para a região. O governador Matias de Albuquerque tentou resistir em Recife, dando a ordem para queimar os armazéns e os navios que se encontravam no porto. Mesmo assim, Recife também foi dominada pelos holandeses. A aproximadamente seis quilômetros de Recife e Olinda, foi edificado um foco de resistência batizado de Arraial do Bom Jesus. Do local, partiam combatentes que, usando as mesmas técnicas de guerrilha empregadas anteriormente em Salvador, também conseguiram sitiar os holandeses em Recife.
A Espanha preparou uma esquadra para apoiar a resistência pernambucana. A Holanda também enviou reforços ao Nordeste brasileiro para intensificar a resistência. As duas forças navais se encontraram próximo à costa brasileira, e o combate terminou empatado, com grande perda de homens dos dois lados.
Ao fim desta batalha, os holandeses incendiaram Olinda e recolheram-se exclusivamente em Recife, onde permaneceram encurralados por dois anos, impossibilitados de ampliar seus domínios pelas emboscadas pernambucanas.
Os holandeses já cogitavam a desocupação de Recife, quando Domingos Fernandes Calabar, que até então havia lutado do lado pernambucano, passou a integrar as tropas holandesas. Calabar conhecia os pontos fracos da resistência pernambucana, como também todos os caminhos da região onde ocorria a luta. Era o trunfo que os holandeses precisavam para a virada nos rumos da batalha pelo rentável e valioso Nordeste açucareiro brasileiro.
O guerrilheiro mulato Domingos Fernandes Calabar, que mudou de lado, passando a apoiar a ocupação holandesa
Vitórias seguidas deram aos holandeses o controle sobre a Vila de Igaraçu, o Forte do Rio Formoso e até o Arraial do Bom Jesus, que era o quartel general da resistência portuguesa, e só foi conquistado pelas forças da Holanda após três meses de cerco e intensos combates.


A Espanha não enviou os recursos que os pernambucanos precisavam para impedir a edificação dos domínios holandeses. As forças defensoras de Pernambuco, formadas por cerca de 8 mil homens entre portugueses, índios e até espanhóis, recuaram para Alagoas. O holandeses só perderam a batalha de Porto Calvo, mas com ela, também se foi seu maior trunfo, Domingos Fernandes Calabar. Preso, Calabar foi enforcado e esquartejado alguns dias depois.

Calabar finou-se, mas os holandeses agora eram os senhores absolutos de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Nessa região, a Companhia das Índias Ocidentais idealizava a criação de uma imensa colônia de povoamento, como ocorreu nos Estados Unidos. A capital da denominada Nova Holanda seria a cidade de Recife.

Mapa do litoral nordeste brasileiro. A região em rosa foi dominada pelos holandeses. É curioso notar que algumas cidades da "Nova Holanda" tinham nomes diferentes daqueles que foram dados pelos portugueses: Natal RN, se chamaria Nova Amsterdã; João Pessoa PB seria Frederícia, e Aracaju possivelmente teria hoje o nome de São Cristovão

Pintura que retrata o Recife histórico, ...

onde as caracerísticas marcantes da arquitetura holandesa são facilmente observadas

Recife é consederada patrimônio artístico nacional, e patrimônio histórico cultural da humanidade

Em 1637, a Holanda enviou outro grande reforço a Pernambuco. Várias embarcações trouxeram o novo governador do Brasil Holandês. O conde João Maurício de Nassau-Siegen teve seu nome escrito para sempre na História do Brasil, graças ao melhor período da colonização holandesa por aqui, ocorrido durante seu governo.



João Maurício de Nassau-Siegen, administador holandes que idealizou a colonização inicial do Nordeste brasileiro nos mesmos moldes daqueles adotados nas colônias que se tornaram países ricos e desenvolvidos hoje em dia


Os territórios ocupados pelos holandeses tiveram Maurício de Nassau como capitão-general, almirante das forças de terra e de mar e governador. Nassau praticamente aniquilou a resistência dos pernambucanos, venceu as forças portuguesas de Alagoas, e atacou o Ceará e Sergipe. A Bahia só não foi ocupada outra vez porque seu governador, Pedro da Silva, resistiu desesperadamente auxiliado pelas forças do índio Antônio Felipe Camarão.


Em 1639, enquanto a Espanha enviava cerca de 1200 soldados como reforço, que desembarcaram no Rio Grande do Norte e percorreram cerca de 2400 quilômetros até a Bahia, Nassau e suas qualidades natas de administrador firmavam o domínio holandês em quase todo o litoral do Nordeste Brasileiro.


As guerras, porém, não permitiram que a Companhia das Índias Ocidentais lucrasse com a produção de açúcar, já que o conflito fez as produções dos engenhos caírem consideravelmente.


Os holandeses passaram a investir na conquista econômica plena da região. Maurício de Nassau estabeleceu ótimo relacionamento com os senhores dos engenhos, ao oferecer facilidades para a produção e o comércio do valioso açúcar. Os fazendeiros também tinham interesse em manter o funcionamento pleno de seus engenhos e comercializar facilmente seu açúcar produzido. Nassau facilitou tudo isso, criado condições para atender os interesses dos donos de engenho, concedendo-lhes créditos que possibilitaram a compra e a reativação de engenhos abandonados.

As primeiras moedas brasileiras foram cunhadas pelos holandeses em Pernambuco, no século 17

Na gestão de Nassau, Olinda foi reconstruída e, em Recife, foram erguidos os palácios de Friburgo e da Boa Vista, além de pontes, hospitais e orfanatos. Era um rumo de administração bem diferente daquele adotado pelos portugueses antes da ocupação flamenga. Nassau trouxe sábios, filósofos e estudiosos para desvendarem os segredos da flora e da fauna brasileiras. Pintores famosos como Franz Post e os irmãos Pieter também vieram e deixaram quadros que retratam a paisagem brasileira da época. O primeiro observatório astronômico do Brasil também foi construído no palácio de Friburgo.


A zona urbana de Recife no século 17, ...

assim como as riquezas da nova colônia, ...

foram retratadas nas obras dos mais famosos pintores holandeses da época, ...


trazidos por Nassau ao Nordeste brasileiro para registrarem o cotidiano da "Nova Holanda", num tempo em que ainda não existia a fotografia


Apesar de protestante, como todos os holandeses, Nassau deu liberdade de culto religioso aos católicos e aos judeus, e garantiu a participação política de brasileiros e portugueses por meio das Câmaras Municipais nos moldes holandeses, chamadas de Câmaras do Escabinos.


Em 1640, o domínio espanhol sobre Portugal caiu, e a Dinastia de Bragança passou a governar um território português novamente independente. Portugal e Holanda assinaram um acordo de não agressão por 10 anos. Ainda assim, Nassau atacou o Maranhão e o incorporou aos territórios holandeses no Brasil.


Nassau era contra a política administrativa da Companhia das Índias Ocidentais, e não concordava com a imposição de juros altos e a cobrança rigorosa dos empréstimos concedidos aos senhores de engenho. Nassau acabou afastado do cargo de administrador da “Nova Holanda” e voltou para a Europa em maio de 1644.


Sua ida pôs fim ao melhor período da ocupação holandesa no Brasil. A administração posterior fez renascer o ódio dos moradores do litoral nordestino contra os invasores, devido às cobranças sem piedade das dívidas dos senhores de engenho. Quem não pagava, tinha seus bens confiscados pelos holandeses.


Nassau se foi e, um ano depois de sua partida, a reação contra o domínio holandês recomeçou em Pernambuco. Em 1645, João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes de Pernambuco, liderou a insurreição formada por brancos, negros, índios, brasileiros e portugueses, a fim de expulsar os invasores.

O governo português, respeitando o acordo de não agressão contra os holandeses, não ofereceu, pelo menos oficialmente, apoio aos revoltosos brasileiros. O primeiro combate importante, que marcou o início da virada no cenário do conflito, aconteceu no Monte das Tabocas, onde os holandeses foram derrotados. Os pernambucanos também venceram em Serinhaém, Nazaré e Porto Calvo.


Em 19 de abril de 1648, os pernambucanos venceram a primeira batalha dos Montes Guararapes. Os holandeses, cercados em Recife, voltaram a receber seus abastecimentos exclusivamente por meio de navios que vinham da Holanda.

Em 19 de fevereiro de 1649, os holandeses tentaram romper o cerco a Recife, mas foram derrotados novamente na segunda batalha dos Montes Guararapes. As lutas duraram quase cinco anos, e a situação dos holandeses só piorou, até culminar com a necessidade de rendição.


Pintura de óleo sobre tela de Victor Meireles, onde a batalha final e decisiva ocorrida no Monte dos Guararapes é retratada

Brasão holandês da Batalha dos Guararapes


Em 26 de janeiro de 1654, o comandante holandês Sigismundo Von Schkopp assinava a rendição na Campina do Taborba. Terminava a ocupação holandesa no Nordeste brasileiro, depois de 24 anos.

O Brasil pode não ter tido a chance de que, em seu litoral nordestino, fosse desenvolvida uma colonização de povoamento como aconteceu nos Estados Unidos. Porém, o domínio holandês por duas décadas e meia, e a luta para expulsá-los tiveram significativas conseqüências para o Brasil:

Colaboraram para a urbanização na região litorânea. O Recife holandês tornou-se um dos mais importantes centros urbanos em todo o Brasil.

Favoreceram a manutenção da unidade territorial da colônia, e contribuíram decisivamente para o desenvolvimento do sentimento nacional.

Promoveram uma união mais efetiva entre os elementos étnicos formadores do povo brasileiro, unidos na causa comum de combater os invasores, e permitiram a realização de uma experiência social, que foi o nascimento da sociedade urbana de Recife, bem diferente da sociedade rural típica do Nordeste canavieiro.

De uma forma ou de outra, se a ocupação holandesa não conseguiu criar por aqui uma nação separada do Brasil, que hoje poderia ter os moldes dos países desenvolvidos do primeiro mundo, ela foi eficaz para o surgimento de um sentimento de unidade nacional que se solidificou e originou o que hoje se observa nos mapas como a expressão territorial geográfica unida que consolidou o Brasil.

Cássio Ribeiro

Críticas e sugestões: e-mail zzaapp@ig.com.br e orkut http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=18423333339962056517

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A ESTRADA REAL

No meio do século 17, por volta do ano de 1654, a crise econômica e a concorrência que desvalorizavam o açúcar no mercado internacional tornaram necessário que fossem encontradas novas fontes de geração de capital e riquezas, a fim de substituírem as plantações de cana no Brasil colônia.


Sendo assim, partiram várias expedições ou bandeiras da pequena Vila de São Paulo que, na época, possuía apenas algumas centenas de habitantes. Seus integrantes, chamados de bandeirantes, como os pioneiros Jacques Felix e Fernão Dias, eram mestiços de portugueses com índios, e utilizavam os caminhos milenares abertos pelos indígenas, além de suas técnicas de sobrevivência nos desconhecidos lugares que desbravavam.

Bandeirantes paulistas, cujas principais atividades iniciais foram, de bacamartes em punho, a ampliação das fronterias do que hoje se chama Brasil, e a caça e captura de índios nos sertões de São Paulo e Minas Gerais


Foi através de um desses caminhos, conhecido como Trilha dos Guaianazes, que os bandeirantes partiram do Vale do Paraíba paulista e, passando pela Garganta do Embaú, ponto mais baixo em toda a extensão da Serra da Mantiqueira, chegaram a um imenso sertão que seria chamado mais tarde de Minas Gerais. O trajeto recebeu o nome de Caminho Geral do Sertão, e ligava a Capitania de São Paulo às Minas.


Os primeiros bandeirantes que passavam por certo lugar, deixavam ali para os viajantes posteriores, pequenas roças plantadas, local para descanso e, às vezes, erguiam uma rústica capela. Essas paradas originaram os núcleos de muitas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais.


No final do século 17, foi descoberto ouro, assim como diamantes e outras pedras preciosas em território mineiro. Por ser a principal via de escoamento da mineração, o Caminho Geral do Sertão era muito utilizado para o transporte de grandes riquezas em carregamentos de ouro e pedras preciosas.

Por esse motivo, a Coroa Portuguesa passou a atribuir natureza oficial ao caminho, chamando-o de Estrada Real. Tinha início em Diamantina, no norte de Minas, e passava por Vila Rica (atual Ouro Preto), de onde se bifurcava, dando origem ao Caminho Velho e ao Caminho Novo. O Caminho Velho da Estrada Real percorria o interior de Minas Gerais e entrava em São Paulo, cruzando a divisa entre os dois estados no alto da Serra da Mantiqueira, através de seu ponto mais baixo, a Garganta do Embaú, e descia para o fundo do Vale do Paraíba paulista.

Em território paulista, a Estrada Real passa pelos municípios de Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Lorena, Guaratinguetá e Cunha, chegando finalmente a Paraty, no litoral sul do estado do Rio, de onde o ouro e as pedras preciosas eram embarcados para Portugal. Os 1200 quilômetros do Caminho Velho da Estrada Real eram percorridos em aproximadamente 95 dias de viagem.


Símbolo da Estrada Real, ...


que começa em Diamantina, no norte de Minas, e vai até Ouro Preto; esse trecho, em preto no mapa, tinha o nome de Trilha dos Diamantes. A partir de Ouro Preto, a Estrada Real se bifurca entre o Caminho Velho, à esquerda em marrom, que termina em Paraty/RJ, e o Caminho Novo, em vermelho, que passa por Juiz de Fora/MG, Petrópolis/RJ, e chaga ao norte da Baía de Guanabara, de onde o ouro e as pedras preciosas eram levados ao porto do Rio de Janeiro e embarcados para Portugal

Duas imagens de trechos preservados da Estrada Real em território mineiro, ...


onde ainda é possível observar a pavimentação original do século 18, em blocos de pedras


Paraty, no RJ, onde o Caminho Velho da Estrada Real termina após cruzar a Serra da Mantiqueira, o Vale do Paraíba paulista e a Serra do Mar, ao fundo

A Estrada Real também servia para o escoamento e o transporte de escravos, mercadorias e animais. E sobre tudo isso pagava-se imposto; mas o que interessava mesmo à Coroa Portuguesa era o Quinto. De toda e qualquer quantidade de ouro ou diamante que fosse transportada pela Estrada Real, deveria ser dado um quinto como imposto à Coroa Portuguesa; e foi daí que surgiu a expressão atual "quinto dos infernos".
Em 2001, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) criou o Instituto Estrada Real, que tem o propósito de promover o reconhecimento histórico e cultural do caminho

Os 1400 quilômetros das três vias da Estrada Real (Caminho dos Diamantes, Caminho Velho e Caminho Novo), que passam por 162 municípios de Minas, 7 de São Paulo e 8 do Rio de Janeiro, estão recebendo marcos indicativos graças a uma parceria entre FIEMG e geógrafos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)


O projeto prevê a instalação de 1927 marcos ao longo da Estrada Real, dos quais, já foram colocados mais de 800. Cada exemplar possui informações com a indicação do município mais próximo, telefones úteis, atrativos da região, distâncias em quilômetros e localização do ponto por GPS


Para fiscalizar, controlar e cobrar os impostos, Portugal criou espécies de pedágios chamados de registros. Esses registros eram pequenas construções localizadas em pontos estratégicos da Estrada Real, como margens de rios, desfiladeiros e passagens de serras, onde havia um portão com cadeado.

Em cada registro, sempre ficavam dois ou quatro soldados, um contador, um administrador e um fiel. Um desses registros ficava na Garganta do Embaú, no cruzamento da Estrada Real com o ponto mais baixo em toda a extensão longitudinal de 500 quilômetros da Serra da Mantiqueira.

Trecho da Estrada Real em Guaratinguetá/SP, ...

de onde é possível observar o relevo da Serra da Mantiqueira ao fundo. O relevo da Serra se abaixa formando a Garganta do Embaú, por onde os bandeirantes paulistas, no século 17, chegaram às Gerais, do outro lado, e por onde o curso do Caminho Velho da Estrada Real vem e entra em SP. Um dos postos de registro de cobrança do "Quinto" ficava no alto da Graganta do Embaú, em função de sua localização estratégica


Todo esse apogeu da mineração nas Gerais se estendeu pelo século 18 inteiro, e terminou no início do século 19, quando os caminhos da Estrada Real passaram a ser livres. Porém, seus traçados formaram o principal fator de ligação com o litoral e ampliação territorial da américa portuguesa, além da integração do que hoje é a Região Sudeste do Brasil.

A Estrada Real contribuiu de forma significativa para o encontro e a fusão de diversas culturas: imigrantes paulistas, pernambucanos, baianos, europeus, tropeiros do sul, escravos negros e índios. Diversas cidades do sudeste brasileiro surgiram a partir de pequenas capelas, vendas e ranchos de tropas instalados ao longo da Estrada Real e de outros caminhos oficiais da época. Passa por este trajeto, ou melhor, pela Estrada Real, a História do Brasil.

Cássio Ribeiro

Críticas e sugestões: e-mail zzaapp@ig.com.br e orkut http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=18423333339962056517