.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A FLUMINENSE FM E SUAS BEM-DITAS ONDAS MALDITAS


Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Barão Vermelho, Capital Inicial e Lobão; esses e muitos outros representantes do rock brasileiro possuem algo em comum, que marcou o início de suas carreiras nos idos dos primeiros anos da década de 1980. Todos eles foram lançados ao terem suas fitas K-7 demo tocadas por uma certa Rádio Fluminense FM, a "Maldita" de Niterói, no estado do Rio de Janeiro.

A Maldita foi antecedida por duas rádios de baixa potência existentes na década de 70; a Federal AM, do Grupo Bloch, e a Eldorado FM, chamada de Eldo Pop na época, e pertencente ao Sistema Globo de Rádio. As duas emissoras foram as primeiras representantes da cultura alternativa do rock no rádio brasileiro.

Em 1974, a Federal virou uma emissora AM popular, com o novo nome de Manchete AM. A Eldorado também mudou de estilo e nome em 1978, passando a ser chamada de 98 FM, ainda hoje uma emissora popular no RJ.

O jornalista Luiz Antônio Mello havia trabalhado na Federal AM e, já que o Grupo Fluminense de Comunicação, dono do jornal O Fluminense, de Niterói, ensaiava a emissão das primeiras ondas de sua emissora FM no início da década de 80, Luiz Antônio, junto com o amigo e também jornalista Samuel Wainer Filho, apresentou o projeto de um programa chamado "Rock Alive" aos donos da emissora. Os dois ficaram surpresos ao receberem como resposta do Grupo Fluminense, o aval para o controle total da Fluminense FM, tendo ambos a partir de então, a liberdade para fazerem o quisessem com a rádio.

A Fluminense FM, que estava sendo criada para ser uma rádio com perfil romântico, passou então por uma mudança literalmente radical: só mulheres na locução e nada de aceitar jabá (dinheiro das gravadoras para tocar músicas promocionais de um CD, discos de vinil na época). A mesma música nunca seria tocada 2 vezes no mesmo dia e as locutoras jamais falariam durante as músicas, que também não seriam atropeladas por vinhetas.

Sendo assim, às 6 horas da manhã do dia 1 de março de 1982, entrava no ar a Rádio Fluminense FM, a Maldita de Niterói, em 94,9 MHz. A programação apresentava a coletânea "Rock Voador", resultado da parceria entre a WEA e o Circo Voador, do RJ, responsável pelo lançamento de nomes como Celso Blues Boy e Kid Abelha. Outras atrações eram, além de consagrados nomes de peso do rock mundial, novas tendências da época como The Smiths, New Order, The Cure, U2 e veteranos não conhecidos como Joy Division e Dead Kennedys.

Um show à parte na programação da Fluminense FM eram as fitas-demo dos até então desconhecidos Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Lobão, Picassos Falsos, Plebe Rude, Capital Inicial, Barão Vermelho e muitos outros.

Era a época de abertura política no Brasil, após quase duas décadas de uma ferrenha Ditadura Militar (1964 – 1985), que governara o país sob moldes de repressão, perseguição política e censura imposta aos veículos de comunicação até o final da década de 1970. A Maldita foi a mola precursora do fenômeno do rock brasileiro da década de 1980, que representou o grito de liberdade de toda uma geração, neta dos chamados Anos de Chumbo.

Mesmo com precária qualidade técnica, as fitas-demo tocadas na Fluminense FM apresentavam criatividade e improviso musical melhor que as das faixas dos LPs das mesmas bandas lançadas pelas grandes gravadoras posteriormente.

Quem girasse o botão do rádio, percorrendo o dial FM carioca naquela época, logo encontrava lá pelos 94,9 MHz, o som inconfundível da programação da Maldita, além das vinhetas totalmente originais: "noventa e quatro vírgula nove; Fluminense FM, a estação do rock", seguido pelo som da corda de uma guitarra arrebentando.

A Maldita, que começou na 15ª colocação de audiência entre as 16 emissoras FM cariocas em 1982, já era a 3ª em 1985, graças a um time de locutoras no qual se destacavam Mylena Ciribelli (que hoje apresenta programas esportivos na Rede Globo), e Mônica Venerabile, a Moniquinha, consagrada radialista brasileira, atualmente em uma grande FM carioca.

Sentados no estúdio da "Maldita", o jornalista e fundador Luiz Antônio Mello e a então jovem locutora Mônica Venerabile, no início da década de 80. Principais programas da época: "Overdrive" (rock em geral), "Contracapa" (rock nacional), "College Radio" (rock independente dos EUA e Reino Unido), " Hellradio" (grunge e rock barulhento da linha pós-punk), "Hard Rock" (rock pesado) e "Fluminense News" (Entrevistas e demos).

O melhor momento da Maldita foi entre 1985 e 1989. Em fevereiro de 1990, o fundador Luiz Antônio Mello deixou a emissora. No mesmo ano, a Maldita perdeu o direito de transmissão do programa "Novas Tendências" para a Rádio Cidade, ficando sem seu tradicional propagador de novidades.

Sem nomes de peso para sustentar seu tradicional estilo roqueiro, a Maldita virou rádio pop em março de 1990, e passou a tocar nomes que nunca tinham freqüentado sua programação antes: Dee-Lite, Paula Abdul, George Michael e Technotronic por exemplo. Nessa época decadente da Fluminense FM, um locutor chegou a comparar o grupo estilo menudo New Kids On The Block aos Beatles.

Um ano depois, em 1991, a Fluminense voltou a ser rock graças a muitos protestos de ouvintes contra a programação pop. Porém, os tempos áureos e originais do estilo livre que a consagrou como a autêntica Maldita tinham ficado para trás. A nova programação rock da emissora era baseada no repertório da MTV que, recém-chegada ao Brasil, dava destaque para bandas comerciais de sucesso na época, como Nirvana, Red Hot Chili Peppers, R.E.M e Guns N’ Roses.

Passando por dificuldades financeiras, sem publicidade e com baixos índices de audiência, a Fluminense FM foi vendida para a Rede Jovem Pan em 1994. Curiosamente, numa alusão aos 94,9 MHz da freqüência da Maldita, a emissora encerrou suas transmissões à meia-noite do dia 30 de setembro (Mês 9), do ano de 1994. A última música tocada foi "The End", do primeiro LP do The Doors, de 1967.

Último formato usado para a divulgação da rádio em adesivos e camisetas, antes da "Maldita" virar franquia da Rede Jovem Pam, em 1994.

A Rede Joven Pan deixou os 94,9 FM da emissora de Niterói em 2000. Um grupo de DJs cariocas assumiu a rádio, que passou a se chamar Jovem Rio.

Em 2001, a Fluminense AM 540 KHz ensaiou um regresso ao estilo da antiga Maldita FM e, em 2002, com o fracasso da Jovem Rio, a Fluminense voltou aos 94,9 MHz do dial FM carioca. Quando perguntado sobre a volta da Maldita, o fundador Luiz Antônio Mello disse: "Não acredito em volta de 'E o Vento Levou', 'Beatles', 'Led Zeppelin', 'Leonardo da Vinci', 'Carlos Lamarca', 'Renato Russo', e, obviamente, da 'Maldita'. Por que? Porque o tempo não pára, e como bem escreveu Nelsinho Motta (nada do que foi será/ de novo do jeito que já foi um dia)."

Após o retorno da Fluminense FM, o estilo rock durou muito pouco, por falta de dinheiro e anunciantes. A emissora foi definitivamente vendida para a Rede Band News em 2005.

Dois livros contam a história da Maldita Fluminense FM; são eles: "Rádio Fluminense FM – A porta de entrada do rock brasileiro nos anos 80", da jornalista Maria Estrella (Editora Outras Letras), e "A Onda Maldita – Como nasceu e quem assassinou a Fluminense FM", do jornalista e fundador da Maldita, Luiz Antônio Mello, que falou sobre o livro em entrevista:

"Nosso pequeno exército venceu preconceitos que existiam (e ainda existem) em torno do Rock autêntico, peitou o lixo vivo da ditadura militar infiltrado na abertura política, enfrentamos sacanagens, sabotagens, fomos além dos nossos limites. Mas faltava a estrutura comercial, a mesma que faltou a Raul Seixas, Van Gogh, Jimi Hendrix, Mozart, e tantas belas figuras que viveram e foram enterradas depauperadas, ingratamente duras. Ah, sim, existe o chamado "reconhecimento depois da morte", mas e daí? Numa das últimas conversas que tive com Raul Seixas ele disse: (cara, estou duro, bêbado...ninguém quer gravar minhas músicas...mas quando estou fazendo um show eu vejo a putada que me fecha as portas metida na multidão gritando meu nome. Eu fico puto, desolado, arrasado)".

Por isso, reafirmo que essa é a última safra do livro "A Onda Maldita..." porque a rádio foi linda, foi maravilhosa, mas foi enterrada viva pela incompetência. Morreu burra, alienada, logo ela que foi berço da inteligência, da vanguarda dos anos 80. Não perguntem nada a mim pois creio ter respondido a tudo e a todos nesse livro. Perguntem quem foi a Maldita a Herbert Vianna, Bi, Barone, Dado Villa-Lobos, Lobão, Maria Juçá, Frejat, Dinho Ouro Preto, Luiz Carlos Maciel, Arthuer Dapieve, Tarik de Souza, Marcos Petrillo, Roberto Medina (a Maldita ajudou no repertório do Rock in Rio I), enfim, perguntem a quem viveu intensamente o Brasil de 1982 a 1985".

Cássio Ribeiro. E-mail: zzaapp@ig.com.br

terça-feira, 23 de outubro de 2007

FUSCA: A SAGA DE UM SETENTÃO IMORTAL

O barulho do motor soa inconfundível quando o elegante e arredondado senhor passa pela rua ainda hoje. É apertado sim, é antiquado se comparado com os modelos automotivos do século 21, mas também é danado de forte e possui uma lataria muito resistente. É um dos carros preferidos nas regiões rurais e montanhosas do Brasil, graças ao vigoroso e tradicional motor boxer refrigerado a ar. Possui o carinhoso apelido de "besouro" e tem o dia 20 de janeiro dedicado em sua homenagem. Trata-se do carro que quem ainda não andou, seguramente já o viu trafegando pelas ruas; o fuca, o fusquete, o fuscão, o simpático fusca.

O engenheiro austríaco Ferdinand Porsche se inspirou em uma gota para desenvolver o carro em 1936, associando as características de eficiência e baixo custo para produzir um veículo capaz de, ao preço acessível de 990 marcos, possibilitar que cada trabalhador alemão tivesse um automóvel.

Era o tempo da Alemanha nazista, e Hitler não estava preocupado com o lucro; queria a promoção da popularidade do regime, por meio de um projeto que reunia no Volkswagem (carro do povo em alemão), a simplicidade do motor boxer refrigerado a ar, e a caixa de marcha compactada em uma mesma unidade.

Uma das raras fotos em que Hitler aparece sorrindo, no momento em que é apresentado à miniatura do protótipo do "besouro".

Cada cidadão alemão que quisesse adquirir o carro, tinha que pagar 5 marcos por semana e só receberia o veículo após o término do pagamento do valor total de 990 marcos. Cerca de 175 mil alemães aderiram ao plano, porém, nenhum deles chegou a receber seu tão esperado fusca. Todas as 640 unidades produzidas até 1944 foram dadas aos integrantes mais importantes do Partido Nazista. A Alemanha saiu derrotada da 2ª Guerra Mundial, que terminou em 1945. A região do país onde os fuscas eram fabricados ficou sob domínio da Inglaterra.

Nos Estados Unidos, o fusca começou a ser produzido em 1949. No início, contou com a antipatia do povo americano que, no começo dos anos 1950, ainda o associava ao odiado e não esquecido nazismo de Hitler. Os americanos também estavam acostumados com automóveis grandes e a modelos com frente e traseira quadrados. Logo, o fusca recebeu o apelido pejorativo de beatle (besouro em inglês), nos Estados Unidos.

Foi o americano Bill Bernback — considerado o maior publicitário da historia — quem popularizou o carro na terra do Tio San. O estilo de seus anúncios fez o fusca ficar famoso em todo o mundo e deu origem a um novo jeito de fazer propaganda, que tratava o consumidor como se fosse um amigo próximo. O título da campanha de Bill era "pense pequeno". Os consumidores chegavam às lojas de automóveis repetindo os textos da campanha publicitária.

No Brasil, o primeiro fusca foi fabricado em 02 de fevereiro de 1953. Porém, a produção em série só começou em 1957, durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek. Era a época da Bossa Nova e do desenvolvimento econômico. O fusca chegou como um símbolo da industrialização nacional.

Nos anos 70 e 80, o fusca era produzido em 140 países. Quebrou um recorde de 15 milhões de carros vendidos, pertencente à Ford até 1972. O carro foi produzido no Brasil até 1986. Teve a produção retomada durante o governo Itamar Franco, entre 1994 e 1996, ano em que sua fabricação foi novamente extinta no país. Atualmente, o motor boxer só é fabricado no Brasil para atender as encomendas das fábricas de buggy e embarcações.

O México foi o último país a encerrar a produção de fuscas, em 2003, graças a uma sobrevida sustentada pela grande aceitação do modelo pelos taxistas daquele país.

Fusca é um mito, uma poesia, uma nostalgia em quatro rodas auto afirmada pelo exemplar mais ilustre, o Herbie de Hollywood. O carro sempre foi comparado a insetos; de carochinha em Portugal à joaninha, nos tempos em que era usado como viatura da Polícia Militar em alguns estados brasileiros. O fato é que, em pleno século 21, o besouro na verdade lembra as formigas. Não importa em qual cidade, sempre há um fusca por perto.

Assim como as estrelas que chegam ao fim de seu ciclo no universo permanecem visíveis na Terra, graças ao último raio de luz emitido que viaja pelo espaço em nossa direção, o astro fusca insiste em não se ofuscar ainda hoje. Quem dera se eles falassem.
Cássio Ribeiro. E-mail: zzaapp@ig.com.br

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A GUERRA FRIA, OS CELULARES E OS JOVENS

Após o fim da II Guerra Mundial, em 1945, o mundo foi dividido em dois grandes pólos de influência política. De um lado, os interesses capitalistas dos Estados Unidos, de outro, a então União Soviética com seu sistema socialista centralizado no monopólio de poder do Estado.

O sistema estatal soviético agonizava e estava praticamente em colapso, mas ressurgiu com força total após a vitória conquistada diante dos nazistas, na histórica Batalha de Kursk, em Stalingrado, em 1943. A ocasião marcou a primeira derrota do todo poderoso e até então invencível exército nazista de Hitler na II Guerra Mundial.

Os nazistas, enfraquecidos, foram empurrados pelos soviéticos de volta para a Alemanha durante dois anos; fato que possibilitou a invasão da Normandia pelos aliados liderados pelos americanos, além do primeiro bombardeio aéreo realizado pela Real Força Aérea Inglesa sobre a Alemanha, desde o início da II Guerra, e que culminou com a rendição dos nazistas e a derrota de Hitler.

Nesse contexto, surge o mundo bipolar simbolizado pela construção do Muro de Berlim, que dividiu o território alemão em duas zonas de influência. A parte leste da Alemanha e da Europa ficaram sob domínio político da União Soviética, e a parte oeste sob o controle capitalista americano. Começa então uma corrida armamentista desenfreada, na qual os dois lados investiram milhares de dólares em armamento, tecnologia de guerra e espacial.

Embora jamais tenham entrado em combate armado diretamente, surge a chamada Guerra Fria, na qual vários conflitos pelo mundo foram financiados pelas duas potências, estando sempre de um lado idéias capitalistas e, de outro, idéias socialistas, como nas guerras do Vietnã e da Coréia por exemplo.

Durante a Guerra Fria, os soviéticos investiram quase todos os recursos financeiros em aparatos bélicos, porém, deixaram a saúde e a economia em segundo plano. Essa política acabou ocasionando a queda da influência socialista no mundo, que foi simbolizada pela derrubada do Muro de Berlim, em 1990, e o conseqüente desmembramento da União Soviética.

Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos ficaram com todo o aparato tecnológico desenvolvido durante décadas, agora sem muita utilidade prática. Essa tecnologia então foi sendo adaptada como bens de consumo e espalhou-se de forma comercial pelo mundo, como fornos de microondas, internet e aparelhos celulares.

Nos dias atuais, os celulares formam apenas um fator de exportação do entretenimento e da cultura dos EUA, que é responsável pela acumulação de capitais e lucros em escala global, por meio das multinacionais. Essa é a principal razão da idéia de globalização tão em moda ultimamente. O alvo principal do imperialismo cultural dos EUA é a juventude, que é mais vulnerável à propaganda comercial americana. A mensagem é simples e direta: modernidade e consumismo.

Não há aqui a pretensão de pregar contra o uso de aparelhos celulares, que são até úteis e trazem facilidades, conforto e comodidade. O problema se configura quando o uso desses aparelhos torna-se uma obsessão ligada diretamente à etiqueta social, alienando os consumidores para sempre trocarem seus celulares pelo último modelo; fato que ocorre também com diversos outros produtos.

A massa humana então torna-se o principal componente do jogo ideológico do imperialismo cultural, que é norteado pelas relações desiguais entre países com realidades econômicas bem diferentes; nesse jogo, as vantagens são sempre usufruídas pelo país que possui a economia mais forte.

A palavra chave é ‘CONSCIÊNCIA’, ou a falta dela, no sentido de entendimento interno do mecanismo desse jogo. O imperialismo cultural enfoca a juventude não só como um mercado, mas também por razões preventivas e políticas, a fim de cortar pela base uma possível ameaça futura de oposição contra as formas de controle econômico e cultural estabelecidas pelo sistema capitalista atualmente.
Cássio Ribeiro E-mail: zzaapp@ig.com.br

domingo, 14 de outubro de 2007

A ÁGUA: SEUS ASPECTOS FÍSICOS MUNDIAIS E HUMANOS

http://www.jornalorebate.com/89/agua.jpg

Um jardim frondoso que cresce, uma mina que brota no meio de uma praça florida, o fluxo que jorra pelas comportas de uma hidrelétrica e movimenta seu imenso gerador de energia num rápido giro, a chuva que cai do céu, o sangue, a lágrima, o suor, o gelo, o vapor que movimentou as locomotivas e as máquinas que impulsionaram, no século 19, a Revolução Industrial na Inglaterra; tudo isso diz respeito ao principal mantenedor da vida sobre o planeta Terra, a água.

Dois simples átomos de hidrogênio, que se ligam a um solitário átomo de oxigênio para formar a molécula do elemento da natureza responsável por 70 % da composição do corpo humano. São 43 litros de água, em média, que cada ser humano adulto carrega em sua individualidade física durante toda a vida.

Não é ao acaso, que a lenda sobre a existência da fonte da juventude, que rejuvenesce quem bebe de suas águas, povoe o imaginário popular em diversas regiões do mundo. É dito na lenda, que os árabes teriam encontrado tal fonte e que, posteriormente, ela fora roubada por inimigos bárbaros, desaparecendo no fundo do mar após um naufrágio.

De certa forma, a água é mesmo uma natural e milagrosa fonte da juventude, pois está entre 50% e 90 % da composição de todo organismo vivo. Trata-se do único alimento com zero caloria que existe, e que fornece nutrientes não encontrados em nenhuma outra substância ingerida durante a alimentação humana. Cada ser humano adulto deve beber entre 2 e 3 litros de água todos os dias, sendo ideal que o consumo seja feito em doses de 200 ml durante dia.

Para que todo o corpo humano funcione em equilíbrio, é necessário que a água seja consumida diariamente de forma regular, independente de haver sede ou não. É necessário um vital equilíbrio entre a quantidade de água que eliminamos do corpo (suor, urina, lágrimas etc) e a água que ingerimos. O desequilíbrio pode ser observado na coloração da urina que, quanto mais escura for, indicará a maior deficiência na quantidade da ingestão de água. Um corpo que funciona com a quantidade ideal de água costuma expelir urina quase incolor.

É curioso notar que a proporção de água que compõe o corpo humano tenha o mesmo valor dos 70% de água que compõe a superfície do planeta Terra. 97 % da água da Terra é salgada e os 3% doces restantes são mal distribuídos pelo mundo. Só o Brasil possui 11,6% da água doce mundial. Países como África do Sul, Egito, Israel, Paquistão, Haiti, Índia, Turquia e Iraque já sofrem com a escassez de água. Uma parte da água consumida no Japão é importada da Coréia do Sul.

Nos países em desenvolvimento, 60% das águas distribuídas pela rede de abastecimento à população se perde em gotas e vazamentos.
No Brasil, 70% da água doce existente está na Amazônia, que é habitada por apenas 7% da população do país. O desequilíbrio da distribuição fica claro quando se observa que o nordeste brasileiro, mesmo cortado pelo rio São Francisco, tem só 3% de toda água doce brasileira.

A manutenção das nascentes de água limpa e fresca depende diretamente da preservação das matas presentes nas encostas das montanhas. As águas das chuvas caem e são absorvidas pelo terreno onde estão as matas, se infiltram no solo e literalmente se filtram, entrando muitas vezes em contato com rochas e minerais nas camadas subterrâneas, sendo assim enriquecidas com diversos elementos que contribuem para o perfeito funcionamento do organismo humano.

Formam-se então os lençóis freáticos, que não são piscinas subterrâneas, e sim encharcamentos do solo que lembram as esponjas de pia saturadas de água. Essas águas acabam aflorando límpidas em superfícies de rochas e em pontos localizados em pequenos vales do terreno, geralmente no alto do relevo. Surge um pequeno olho d'água que escorre, junta-se a outro filete e depois a outro mais abaixo, formando assim um pequeno riacho, que se une a uma rede de outros córregos para formar o curso de um rio que corre no fundo do maior vale próximo à região das nascentes.

Também existem milhões de litros de água espalhados pelo mundo em forma de aqüíferos subterrâneos; um dos maiores deles, o Aqüífero Guarani, fica sob o Brasil e se estende pelo centro sul da América do Sul, por baixo de terras do Paraguai, Argentina e Uruguai, num total de 55 mil metros cúbicos de água distribuídos em 255 mil quilômetros quadrados. Existe uma base dos Estados Unidos no Paraguai, bem ao lado do Aqüífero. Os estadunidenses afirmam treinar tropas paraguaias no local, e fiscalizam uma suposta conexão da atividade terrorista mundial na região.

As águas dos aqüíferos ainda não podem ser usadas, pois a tecnologia atual disponível não permite ao homem chegar aos reservatórios localizados nas profundezas da Terra.

A visita do Secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, à América Latina na semana retrasada, teve como um dos propósitos tratar da instalação de bases aéreas americanas na região onde está boa parte de toda água doce do mundo, além de outro local para abrigar a base de Manta, localizada atualmente no Equador, onde o governo recusou a renovação da licença de uso daquela base pelos americanos. A agência de notícias Reuters publicou que Colômbia e Peru se ofereceram para instalação da base americana, porém seus governos negam.

A escassez de água atrapalha o desenvolvimento de um pais, principalmente com problemas sociais e de saúde, que prejudicam diretamente a economia de uma nação. É essencial proteger os mananciais em todos os sentidos, a fim de tê-los ainda no futuro e evitar um possível caos na humanidade, em que homens de todos os continentes entrariam em guerra para conquistar um elemento que pode vir a se tornar tão raro: á água.

A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água, por meio de um documento chamado "Declaração Universal dos Direitos da Água", que foi publicado na ECO RIO 92, realizada entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro. Eis um pequeno trecho do documento:

"A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como seriam a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 30 da Declaração Universal dos Direitos Humanos".

Nas regiões dos países onde os recursos hídricos são encontrados em abundância, a população no geral acredita que a água é um bem natural infinito e, por isso, pode até ser desperdiçada; ledo engano. Natural sim, e indispensável para a manutenção da vida em todos os aspectos, porém finito e dependente da conscientização das pessoas e da preservação das matas.

São alarmantes os dados que mostram que 90% do esgoto produzido no Brasil é jogado sem tratamento nos mares, lagos e rios. Cada vez que são utilizados mil litros de água, outros dez mil são poluídos.

O consumo de água hoje no mundo é três vezes maior que em 1950. Havia aproximadamente 500 mil pessoas sobre a Terra em 1650. Em 2010, serão cerca de 8 bilhões de seres humanos sobre Planeta, chegando aos 16 bilhões algumas décadas depois.

No ritmo em que "caminha" a humanidade, calcula-se por meio de dados fornecidos pelo International Water Management Institute (IWMI) dos EUA, que 1,8 bilhão de pessoas ou 30% da população mundial estará vivendo em condições de absoluta falta de água no ano de 2025.

Se os 5 bilhões de anos de existência do mundo pudessem ser representados por apenas um ano, só ouviríamos falar do Homo Sapiens quando estivessem faltando 10 minutos para a meia-noite do dia 31 de dezembro do ano comparado, guardadas às proporções de escala, aos 5 bilhões de anos da Terra. Em tão pouco tempo, o homem já criou a incerteza sobre a preservação de sua existência sobre a Terra.

A manutenção da sobrevivência da espécie humana está direta e intimamente ligada à preservação da substância que compõe quase toda a nossa individualidade corporal: sua "excelência", a água.

Cássio Ribeiro. E-mail:
zzaapp@ig.com.br