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sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

BIQUÍNI: A EVOLUÇÃO DOS "QUATRO TRIÂNGULOS DE NADA"

1º de julho de 1946. A marinha dos Estados Unidos realiza uma série de explosões nucleares a fim de testar bombas atômicas, no Atol de Bikini, ao sul do Oceano Pacífico, perto da Oceania. Dois dias depois, em 3 de julho de 1946, o francês e engenheiro mecânico desempregado Luois Réard apresentava ao mundo uma inédita peça da vestimenta feminina, que ele mesmo chamou de biquíni, já que tinha a certeza de que, mesmo naquela sociedade liberal européia da década de 40, o pequeno traje seria encarado como uma explosão nuclear; e foi.
O primeiro biquíni chega como uma bomba nos anos 40

Comparado com os modelos de hoje, o biquíni inicial era um tanto comportado. Mesmo assim, nenhuma modelo da época aceitou vestir-se e desfilar no lançamento da nova peça, que cabia em uma caixa de fósforos. Esse primeiro biquíni trazia a disposição da página de um jornal em sua estampa.

A tarefa de modelo acabou sobrando para a francesa Michelini Bernardini, uma dançarina que fazia show tirando a roupa todas as noites em uma casa noturna de Paris. Michelini então desfilou e posou para fotos à beira de uma piscina em Paris, naquele julho de 1946. Os jornais da época descreveram o primeiro biquíni como "quatro triângulos de nada". Apesar do escândalo, Michelini recebeu 50 mil cartas de admiradores.
Mesmo sendo sensação de divulgação na imprensa da época, o biquíni chegou às lojas mas não fez sucesso num primeiro momento. O tradicional maiô ainda roubava a cena numa época em que o biquíni representava escândalo.

Essa realidade só começou a mudar com o cinema, onde a atriz francesa Brigitte Bardot atuou sem inibição nos filmes "E Deus Criou a Mulher", em meados da década de 50, e "As Noviças", em 70. Brigitte também contribuiu para a popularização do Biquíni no Brasil, depois que fotos suas desfilando no verão de 64, com um minúsculo biquíni em Búzios, no RJ, ganharam o mundo. Até esse fato, o biquíni só era usado no Brasil pelas vedetes do teatro rebolado.

Brigitte Bardot no filme "As Noviças", de 1970

Leila aos 7 meses de gestação em Ipanema, em 1971

Na década de 60, com a onda de liberalismo que tomou conta do mundo, o biquíni passou a representar um comportamento de mulheres que buscavam a independência e a liberdade numa forma de protesto, tanto que o então presidente Jânio Quadros (1917–1992) proibiu, em 1961, o uso do biquíni nas praias brasileiras. A proibição foi a espoleta que faltava para deflagrar o uso desenfreado da peça, que só diminuía de tamanho com o passar dos anos.

Já na década de 70, a ousadia reuniu o biquíni com a exposição de uma barriga de 7 meses de gravidez na praia de Ipanema. Essa ousadia tinha um nome que ficou famoso como um símbolo de atitude da liberação feminina: Leila Diniz, que foi a primeira grávida a desfilar de biquíni em público, no ano de 1971, na famosa praia carioca. Leila Morreria num acidente de avião um ano depois.


A partir de Leila Diniz, o Brasil, graças aos seus 7 mil quilômetros de praias e verão durante quase todo o ano em alguns lugares, passou a despontar como o grande celeiro de tendências da moda dos biquínis.

A carioca Rose di Primo lançou a tanga ainda nos idos dos 70, aos 16 anos, quando substitui as laterais de um biquíni muito apertado, e que não passava pelas pernas, por tiras de pano. Apesar dos protestos de sua mãe, Rose escandalizava diariamente a liberal Ipanema com seus minúsculos modelos de tanga recém-criados.

Na década de 80, o Brasil se consagra e se firma no cenário mundial como líder da produção de biquínis, e na vanguarda das tendências de novos modelos. As inovações surgem sobre os corpos esculturais de verdadeiras deusas como Monique Evans—e seu famoso topless—, Luiza Brunet, Isadora Ribeiro e toda uma constelação adornada pelos modelos enroladinho, sutiã cortininha, asa-delta e, quando o tamanho não tinha mais para onde diminuir, surgiu mais um modelo 100% brasileiro chamado fio dental, que acabou ganhando as praias de todo o mundo e, ainda hoje, é o preferido das mulheres mais jovens.

O modelo asa-delta

O detalhe do fio dental...
Nos anos 90, o biquíni ganha acompanhamentos ditados pela moda: cangas coloridas, óculos, saídas de praia, chapéus, chinelos e toalhas.

O Brasil hoje é o país que mais fabrica e consome biquínis no mundo, além de ter a qualidade de suas peças reconhecida mundialmente pelo estilo ousado e pela criatividade dos modelos. São cerca 60 milhões de biquínis produzidos todos os anos no país, dos quais, 9 milhões são exportados.

e o fio dental de Isadora Ribeiro
A modernidade evolutiva proporcionou agilidade e qualidade na produção das peças: corte dos modelos a laser, tecidos que secam rapidamente e repelem os raios solares nocivos ao corpo, além de impedirem a proliferação de bactérias.

Ainda está longe de existir, mas os especialistas afirmam que algumas futuras inovações serão tecidos que mudarão de cor conforme a temperatura, e possuirão propriedades anticelulite e antiestrias.

Ao biquíni, sempre associado ao corpo daquela que talvez seja a mais perfeita de todas as criaturas, a mulher, resta a definição dada por uma das mais importantes editoras de moda do mundo, Diana Vreeland (1903-1989), com passagem pelas revistas americanas Vogue, Harper’s e Bazaar: "É a invenção mais importante deste século 20, depois da bomba atômica", disse ela.


Cássio Ribeiro. E-mail: zzaapp@ig.com.br

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